Blog do Inácio Araújo

Caos aéreo e outros caos

Inácio Araújo

Não pude fazer mais que um bate-volta no CineOP deste ano. Precioso como sempre. Homenagem a Carlos Manga, um dos grandes artesãos do cinema brasileiro, e ao tempo da chanchada, de que ele foi um dos principais cultores.

No passado a gente ria muito com a história da URSS, cujo passado se modificava conforme as últimas decisões do Politburo.

Mas, é estranho, o passado muda muito mesmo, cada vez mais. A chanchada, que já foi vista como vergonha nacional, passou a patrimônio importante do nosso cinema.

O tempo transforma a visão das coisas.

Penso que hoje existe a tendência a caminhar para uma perspectiva mais equilibrada, e foi isso o que se viu lá, nessa observação dos nossos anos 50/60.

Quanto mais o tempo passa, mais me parece claro que o cinema novo, menos que uma ruptura, é um corolário dos erros, acertos, experiências, tentativas, idéias dos anos 1950.

Há mesmo intersecções interessantes: Anselmo Duarte (cineasta que precisa ser revisto num próximos encontros, sem dúvida, e pelo Brasil em geral), que tem um pé na Atlântida e outro na Vera Cruz.

O Ministério do Medo

No começo do atual governo, Eder Sader estava indicado para um posto e caiu antes de tomar posse porque chamou a ministra da Cultura de “meio autista”.

Não sei o que ele faria na Casa de Ruy e parece que os projetos eram mesmo pouco ortodoxos, mas disso eu não entendo.

Eu sei que apontar autismo não é ofensa a ninguém. Fora do quadro patológico significa que a ministra não se comunica bem. Não era motivo para demissão ou retirada de convite ou lá o que fosse. Ela só se embanana mesmo.

Segue o enterro: Por que a Secretária do Audiovisual não estava em Ouro Preto?

Acaso discutir sobre história do cinema brasileiros e preservação de filmes brasileiros não faz parte de suas atribuições?

O autismo no MinC seria programático e não um estágio superável?

Rico ri à toa

Eu gosto de muitos filmes do Roberto Farias, mas raramente me entendo com as opiniões dele.

Ele acredita que no Brasil, até aqui, as pessoas fizeram os filmes que quiseram. Que agora a situação exige outra postura.

Não sei se é (e foi) bem assim. Sempre houve filmes para mais público e sempre para menos público. Uma coisa não deve eliminar a outra, e não seja a evocação da chanchada motivo para isso.

Na outra ponta, Maximo Barro, professor de cinema e antigo montador, lembra que José Carlos Burle, em “conversas de moviola” dizia detestar fazer chanchadas.

De fato, observe-se as obras “´sérias” e compare-se às chanchadas desses diretores, como Burle.

As coisas sérias hoje nos aparecem, com raras exceções, insuportáveis. As chanchadas, ao contrário, sobreviveram alegremente. Ou seja, detestar fazer ou não detestar acaba não sendo um bom critério.

Tropa de Elite

A Severiano Ribeiro chegou com uma tropa de elite a Ouro Preto, disposta a defender com unhas e dentes sua versão da história.

É importante, isso. Porque a primeira tendência dos historiadores é escutar quem esteve lá, diretores, técnicos, críticos. A impressão é sempre de que o produtor, distribuidor, exibidor, é um belo explorador, etc.

Nem sempre é assim. Nem em tudo é assim.

Acho importante cotejar dados. O pessoal da Severiano Ribeiro fala que os equipamentos eram os melhores do mundo. Só falta dizer que os estúdios punham os da Vera Cruz no chinelo.

Ora, a pobreza das produções Atlântida é franciscana. Isso está na cara. Não é nem um defeito. Era um modo de produção. Era o que dava para fazer.

Severiano Ribeiro era aliado dos americanos? É mais que verossímil. Senão, como sobreviveria naqueles anos uma cadeia de exibição?

Enfim, sempre há o que matizar, porque a visão da história não pode surgir de um lado só. A presença da SR é boa.

Mas convém conter certos exageros. As críticas a SR não são porque ele era nordestino. Isso não tem rigorosamente nada a ver. Esse tipo de visão já é muito subjetiva, algo que parece uma espécie de lenda familiar. Colocada em público, querendo transformá-la em versão final é já caminhar para a eliminação pura e simples do superego. Não fará mal à defesa da história da Atlântida a presença de seus representantes. Mas, como com frequência acontece, a suposição de que a sua história é a única possível vai derivando aos poucos para o burlesco.

No chão e no ar

É o seguinte. Ao contrário do que se possa imaginar, o caos aéreo continua firme e forte. Apenas que agora é mais organizado, de maneira que não dá mais para criar aquelas cenas de gente desesperada na TV.

Mas o princípio é o mesmo. Eu tinha avião às 13h52. Embarquei às 15h30. Atraso razoável. Não dá tempo nem de ir ao Procon reclamar. O problema é que não foi atraso coisa nenhuma.

Juntaram o meu vôo com o vôo seguinte, de tal modo que, na chegada a Belo Horizonte, eu vinha num vôo, mas o número de vôo afixado nas informações era outro.

No entanto, a minha mala estava lá, na esteira com número errado.

Claro, como sempre acontece nesses casos, marcam duas pessoas no mesmo lugar, essas coisas. Enfim, a diferença é que agora as coisas estão entre as aéreas e quem controla o movimento e tal. Enfim, está encoberto, mas ativo.

Como somos um país concebido, há séculos, para poucos terem tudo e muitos não terem nada, uma ligeira mudança nesse panorama parece um cataclisma.

Tentar chegar a um guichê da Gol no dia em que voltei equivalia quase a uma declaração de guerra. Com os funcionários da companhia (que se matavam para organizar as coisas, diga-se), com as pessoas atrás ou na frente da gente (que nos empurram com os carrinhos ou são empurradas, conforme a posição).

É impressionante, aliás, o Aeroporto de Confins. Vai ser ser ampliado? Parece um ovo, comparado a, digamos, Congonhas.

Do jeito que está, mal dá hoje em dia para receber o campeonato mineiro. Que dirá o mundial.

Quando comento essas coisas com minha parceira, ela não está nem aí. “Olha, na Europa e nos EUA é daí pra pior e eles acham que está tudo certo e que a vida é assim mesmo”.

A história precisa de no mínimo duas perspectivas.

  1. Carry Mcdilda

    18/07/2011 12:32:52

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  2. Célio

    22/06/2011 19:31:34

    Caro Inácio, quem ofendeu a ministra Ana de Holanda foi Emir Sader e não Eder Sader como vc postou. Não creio que ela seja ministra por influência do irmão, mas o fato é que Gilbeto Gil dava muito mais relevância ao cargo. Quanto ao passado mudar é verdade, sempre está mudando. Por isso acho muito estranho essas verdades prontas, tipo filme bom tem que ser assim ou assado . No mais, forte abraço.

  3. Leandro Moraes

    22/06/2011 03:21:18

    Eu seguro a tecla "control" e uso o botão do meio do mouse (rolando o botão)para aumentar ou diminuir. É rápidão.Quanto à ministra da cultura: Eu a vi no jô soares e achei ela bem fraquinha. Não acho que entraria em uma briga e sequer sairia vida de uma. Não a vejo com pulso para brigar para defender o cinema brazuca. Mas é irmã do buarque, né? Se fosse do bento...

  4. Fernanda

    21/06/2011 22:36:33

    De fato, Inacio, as companhias aereas muitas vezes abusam da nossa boa vontade. Eu que vivo em idas e vindas sei bem como é. Mas o problema de Confins é anterior: é de estrutura mesmo. O terminal é que é triste... so o estacionamento deve ter a capacidade para uns 200 carros e olhe la. Não é criticar por criticar não. Belo Horizonte nunca foi polo turisitco, então nunca houve essa preocupação. Mas agora, com essa historia de Copa, as coisas mudam, o fluxo de pessoas pode aumentar de forma exponencial e ai vai todo mundo evocar Drummond e perguntar "e agora, José?".

  5. Inácio Araujo

    21/06/2011 18:51:19

    Fernanda, de fato Confins é um fenômeno, inenarável, não há como compará-lo a Charles De Gaule. Mas já entrei em belas frias em 1) Washington - na conexão, o avião da companhia atrasou e eles queriam por a culpa em mim; era uma companhia americana; 2) na Alemanha, a Lutfhansa foi gentil, mas como (houve uma tempestade que desviou o avião que me levava até Frankfurt, local da conexão) o avião para o Brasil saiu sem dizer adeus tive de ficar um dia a ver navios por lá, e ainda não havia vôo que partisse de Frankfurt, me mandaram para Hamburgo, antes. Isso para a gente ver que nem só de belezas se faz o Primeiro Mundo.

  6. Inácio Araujo

    21/06/2011 18:37:01

    Gildo, obrigado pela nota. Quanto ao tamanho da letra, eu não controlo. Mas tenho a impressão de que no canto direito do Explorer existe uma maneira de aumentar qualquer letra.

  7. Gildo Araújo

    21/06/2011 17:39:44

    Inácio, seu blog é nota mil, mas que tal aumentar o tamanho da letra.

  8. Fernanda

    20/06/2011 20:41:39

    Inacio, que me perdoe a sua honoravel donzela, mas é bastante equivocada sua impressão. Sou belorizontina e moro em Paris, e sim, você tem razão, Confins é menor que a rodoviaria de são paulo... é um ovo mesmo, e eu também me pergunto por onde sairão os turistas que quiserem se aventurar naquelas terras de minas atras do futebol. Em Paris, so se compara com o aeroporto de Beauvais, criado para atender a pouquissimos vôos de companhias low coast. Além do monstro que é o Charles de Gaule, principal aeroporto da cidade, temos o segundo, Orly, que, apesar de bem menor que o CDG, tem capacidade suficiente para não sufocar um lado so da cidade. Não tem isso de ser dai pra pior não. Em termos de estrutura, eu sinto muito, mas é muito dificil comparar o que se tem na Europa e no Brasil. E a cidade de Belo Horizonte ja foi a terceira capital do pais (não sei se ainda é)... é, de fato, preocupante.

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