Blog do Inácio Araújo

O Favorito dos Cinéfilos 2

Inácio Araújo

No paraíso da cinefilia 2

E então há, em Bologna, os primeiros sonoros do Hawks.

Fantásticos momentos: O Tubarão (Tiger Shark), com Edward G. Robinson fazendo o pescador português. O homem-tubarão, no fundo. Já se vê aqui, com nitidez, essa marca tão hawksiana que é a associação entre o homem e alguma figura animal. Há também o conflito com a natureza, a necessidade de dominá-la e de ao mesmo tempo se autoconhecer (isso, quem falou foi Jean Douchet). Scarface também tem isso: Toni Camonte é o homem-símio. Mas este é uma obra-prima tão consagrada que nem vem ao caso comentar.

Há ainda The Crowd Roars, um belo conflito entre irmãos corredores de automóvel em que não se sabe o que é competitividade e o que é afeto.

Mas talvez o primeiro momento em que vi Hawks pleno é mesmo 20th Century/Suprema Conquista, bela comédia de recasamento, mas também de um diretor de teatro e seu ego enorme em busca de sua estrela (a dominar, naturalmente) e também amada.

A mulher aparece aqui, essa figura forte que reencontraremos com frequência em seus filmes posteriores, sobretudo depois dos anos 1950. Obra-prima, também.

Por fim, não revi Barbary Coast/Duas Almas se Encontram, que vi há muitos anos e, na ocasião, me pareceu notável.

Agora, Trent’s Last Case é a esquecer.

Volto depois para completar essa visada Hawks, com a cena falada esmiuçada por Kevin Bronlow, Jonathan Rosenbaum e, sobretudo, Jean Douchet. E com a exibição de Os Homens Preferem as Loiras na Praça Maggiore.

Depois passo ao resto que, veremos, de resto não tem nada, nada mesmo.

Tropeços do CCBB

Não sei se o pessoal do CCBB leu os comentários ao post sobre o belo catálogo e a bela mostra Hitchcock. Mas as reclamações, me parece, procedem. Talvez não tudo.

Desta vez, neste ciclo, ao menos uma parte dos filmes está sendo reexibida no CineSesc, que é uma sala com maior capacidade. Mas é fato que uma sala tão pequena, desde o início, acaba sacrificando enormemente quem está interessado em ver os filmes.

Existem também as reclamações quanto ao catálogo não ser vendido, apenas distribuído a quem assiste uns tantos filmes.

E são justíssimas, essas reclamações. Se se faz um belo catálogo como este, por que não vender? (No post sobre o catálogo eu lembrava os da Cinemateca Portuguesa: nunca vi um filme lá, mas comprei vários dos catálogos deles, que além do mais têm preço acessível).

Tenho a impressão de que isso (a não comercialização) tem a ver com o fato de esse centro cultural existir em vista da renúncia fiscal: as coisas seriam feitas então a partir de um orçamento anterior (prevê-se um mil ou dois mil exemplares, sejam lá quantos forem) e então devem ser distribuídos gratuitamente.

Pode ser que não seja nada disso, apenas uma maneira de ver as coisas um tanto errada – e nesse caso, daria para corrigir. Sei lá, quando acabar a mostra, faz uma edição para vender, qualquer coisa assim.

O certo é que esses catálogos do CCBB são preciosos para a cultura cinematográfica da gente aqui, trazem muita informação e reflexão importantes – não dá para ficar regulando.

Por fim, não vi reclamação específica, mas é o seguinte: não é só a sala que é um ovo. Também a tela do CCBB é, para dizer o mínimo, precária.

Quando fizerem outra sala é preciso cuidar disso. E ter janela para todos os formatos, sobretudo os clássicos: são filmes quase quadrados (pelo enquadramento, quero dizer) que vemos completamente horizontalizados, isto é: perde-se boa parte do quadro.

Literárias:
Flip Flop

Incrível : é Antonio Candido, com mais de 90 anos, quem chama a atenção para a moleza da crítica literária atual.

Não tenho como comentar o diagnóstico todo, mas é fato que a crítica com que eu topo é uma coisa em geral frouxa, tendendo a uma espécie de clube de amigos. Digo isso e já peço desculpas aos amigos que escrevem e que por ventura se sintam injustiçados, mas eu vejo a coisa assim, à distância, como leitor não implicado na coisa.

Alcir Pecora, já disse aqui, reinventa a crítica jornalística, embora seja alguém da academia.Nisso acho que o Candido deve estar errado: a questão não é o lugar de origem.

Um chato de galocha

Quase tive um ataque de riso ao ler da surpresa geral com que se descobre ser o Lanzman um chato de galocha.

Ele fez simplesmente um grande filme, “Shoah”. No mais é pessoa de profundos maus bofes. Quase digo desprezível, mas não digo.

A morte da literatura

Está morrendo? Leyla Perrone Moisés escreve que muito do contemporâneo consiste numa constatação da morte da escrita, do leitor.

Enterro de luxo, pois: ao mesmo tempo o espetáculo literário vai a mil.

  1. Thiago Candido da SIlva

    14/07/2011 19:45:55

    Oi, Inácio. O CCBB disponibilizou em formato .pdf o catálogo da mostra do Hitchcock para download gratuito. Segue o link:http://www.bb.com.br/docs/pub/inst/dwn/Hitchcock.pdf

  2. felipe

    13/07/2011 14:09:29

    sobre o ccbb:Nao sei se a nao comercializacao do catalogo tem relacao com renuncia fiscal.Ano retrasado paguei R$ 80,00 num catalogo para uma mostra da yoko ono no ccbb.Mas consegui resolver meu problema no cinesesc os catalogos da mostra hitchcock eram vendidos a R$ 10,00.

  3. Renan Lima

    11/07/2011 14:14:22

    Boa tarde, olá Inácio, tudo bem?Ao falar da mostra do Hitchcock, no CCBB, concordo com todas as colocações, principalmente sobre o catálogo não ser vendido, acho um absurdo.Mas, no CineSesc, o catálogo está sendo vendido e a preço bem acessível, R$10,00, acho válido divulgar essa informação para os desavisados e para aqueles que não conseguiram ver 10 filmes no CCBB.Obrigado pela atenção,abs.

  4. Paulo Rocha

    11/07/2011 13:59:21

    Inácio,O catálogo da mostra Hitchcock está sendo vendido no Cinesesc a R$ 10,00. Só não entendi o motivo de não ter sido feito o mesmo no CCBB.Abraço

  5. Leonardo Bomfim

    11/07/2011 10:37:33

    Passou A Patrulha da Madrugada/The Dawn Patrol? Tirando Scarface, é meu favorito dos primeiros falados do Hawks. A impressão é a de que o mundo inteiro se concentra naquela base aérea. Coisa linda o filme. Claro que depois ele faria ainda melhor em Paraíso Infernal...

  6. Bruno Cerqueira

    10/07/2011 18:00:19

    Desculpa Inácio,Não há nada como ser apocalíptico, dizer que tudo está decadente; vc é recebido de braços abertos. Só aponta "moleza" na crítica literária atual, "morte da escrita", e etc, tal como Cândido, Pecora e Moisés, quem desconhece (tenho certeza, não é o caso dos três) ou minimiza (aí, sim, o trio se encaixa) iniciativas como o jornal mensal curitibano Rascunho (www.rascunho.com.br), cuja versão imprensa é mensal. Isto no plano da crítica literária. Na literatura mundial, não faltam nomes de fôlego, e na brasileira, enquanto existirem nomes como Milton Hatoum e Luiz Ruffato (fora o etc), surgidos de 20 anos para cá, tudo estará bem. Claro, falta o teste do tempo, Mas Pecora reclama da falta de novos Guimarães Rosa. Ora, falta o lastro histórico. As coisas não estão mal. Mas choramingar sempre arrebata.

Os comentários não representam a opinião do portal; a responsabilidade é do autor da mensagem.
Leia os termos de uso