Blog do Inácio Araújo

Poética da insignificância

Inácio Araújo

O que me irrita em uma parte dos filmes brasileiros é uma espécie de insignificância programada que resulta em, por exemplo, “O Homem do Futuro”.

São quase duas horas dedicados a, basicamente, não ter o que dizer. Imita-se bastante. No caso de “De Volta para o Futuro”, quase desavergonhadamente, no de “Carrie, a Estranha”, moderadamente.

Mas não é esse, em definitivo, o problema do filme. Imitar aqui e ali faz sentido. O que não faz sentido é fazer da protagonista uma garota com cara e jeito de cheerleader. Ou fazer Wagner Moura ir e voltar no tempo, fazer do tempo uma espécie de ioiô inconseqüente.

Depois dessa enfadonha passagem por uma estética de comercial velho misturada a superprodução laboriosa ficamos sabendo que, na vida, melhor é não voltar no tempo, é deixar tudo como está etc.

Até podia ser. Mas como se volta a 1991 sem captar nada daquele momento? O que vivíamos: Collor, entre outras. Nada está lá. Nada.

O essencial, de acordo com o filme, é que, sabendo tudo o que vai acontecer no futuro, o ex-cientista ganhar rios de dinheiro na Bolsa de Valores. Um sonho brasileiro: a informação exclusiva, “insider”.

Eu disse que nada há de 1991, de Collor. Há uma coisa: Collor fez a liquidação do cinema brasileiro como que para garantir que qualquer cinema futuro fosse mais ou menos como “O Homem do Futuro”, isto é, nada. Parece que não foi em vão.

Prosaico e simpático

Já “Larry Crowne – O Amor Está de Volta” conquista minha simpatia pelo simples fato de colocar em relevo coisas como a busca do conhecimento e a leitura (em livros).

Em livros, isto é, existe uma implícita condenação dos celulares, dos games, da internet. De tudo o que é dispersivo, nos entope de conversas supérfluas, nos oferece o vazio.

No mais, o filme é mais uma comédia romântica em que Julia Roberts namora um cara que em princípio seria inatingível para ela.

É o forte de Julia. Toda hora está envolvida numa história desse tipo. Ou é uma estrela que transa com um livreiro, ou uma prostituta por quem o cliente rico se apaixona etc. Aqui ela é uma professora durona em crise matrimonial e às voltas com um Tom Hanks também muito simpático.

Talvez não vá muito longe em seu prosaísmo, mas é bem digno. Será um filme para ver no DVD? Pode ser. Mas quem cair nele por falta de lugar no “Lanterna Verde” acho que não vai sair perdendo.