Blog do Inácio Araújo

O cinema da Boca do Lixo, visto de Rotterdam – parte 1

Inácio Araújo

A sensação é estranha em Rotterdam. No primeiro momento podia-se pensar que trazer filmes da Boca do Lixo de 1967 a 1987 seria uma salada. Havia desde os ditos marginais dos 60, ao cinema comercial dos 70 até o sexo explicito de uma parte dos 80 em diante.

O conjunto, no entanto, mostra uma surpreendente continuidade. O cinema que evocava as questões sexuais misturadas com banditismo, ou que criticava a política e o próprio cinema novo com escracho foi banido a partir de certo momento. Era uma maneira de combater a impossibilidade de fazer cinema.

Nasceu um cinema comercial que manteve a tradição do filme barato, de, com frequência, humor ácido. Era um cinema possível, que de certa forma havia surgido do anterior, apesar de todas as distâncias.

Afinal, o que dizia Rogério Sganzerla era que queria fazer filmes para encher os poeiras e serem esquecidos. Bem, a grande maioria dos filmes da dita pornochanchada cumpriu exatamente esse programa, embora Rogério e outros estivessem fora.

O pornô, bem, eu ainda não vi nenhum dos que estão passando aqui, mas vi uns fragmentos, e em relação ao que conheço da indústria internacional se notabilizam por certo humor. Mas é aquela coisa horrível, de todo modo.

O que eu quero dizer é que temos de novo, naquele momento, novamente, um cinema da impossibilidade.

O publico de Rotterdam encheu uma sala grande para ver ''Oh! Rebuceteio!'', do Cláudio Cunha. E ficou até o fim, segundo relatos (eu tinha outra coisa a fazer, desculpem os amigos, mas quero ver na segunda chance). De todo modo, o que eu quero ver do Cunha é ''Snuff , Vítimas do Prazer'', que é mesmo muito bom, ao menos até onde eu me lembro.

No mais, há descobertas. ''O Pornográfo'', do João Callegaro, emplacou com força. As pessoas aplaudiram muito na primeira exibição e houve muitas perguntas. Callegaro respondia à la Hawks: sem dizer quase nada.

É só o começo. Há vários filmes brasileiros aqui, inclusive o do Kléber Mendonça, de Pernambuco, que é uma esperança. Vamos ver ele e os outros que der para ver.