Blog do Inácio Araújo

Jornalismo e arte

Inácio Araújo

Alberto Dines propôs a questão que eu não soube responder no programa “Observatório da Imprensa”: “Não será o jornalismo, também, uma arte?”.

No momento, agora, eu penso no que disse Borges certa vez: “arte é o que nos dá felicidade”.

Se for por aí, direto, o jornalismo não é uma arte, já que seu objetivo não é proporcionar felicidade, mas informar.

Pode-se usar um critério metafórico. Não será a medicina, por exemplo, uma arte? O cirurgião que corta o tecido humano com precisão e salva nossa vida não seria um artista? Ou o jornalista que utiliza habilmente as palavras seria um artista?

Mas esse critério leva longe e, cada vez mais, pode se tornar impreciso. O ensaísta é um ensaísta. Não se pretende que seja um artista, por mais forte que seja seu pensamento.

E por aí vai.

O artista é um criador de formas. O domínio da arte é o da criação e fixação de formas. Formas inúteis, pode-se acrescentar.

Se tirarmos a inutilidade fora, a arquitetura pode ser vista como uma arte. Talvez seja mesmo, pois é essencial para o embelezamento (ou não) das cidades e para o nosso bem estar de cidadãos.

Por esse critério pode o cinema figurar entre as artes?

A mancha do cinema, na primeira metade do século passado, era ser uma arte dependente da realidade. Ele não cria formas, mas se apropria de formas que estão na realidade.

No entanto, ele as seleciona e as articula. Ele redesenha a realidade, digamos assim. E a ressignifica, também.

Talvez o cinema esteja na base da crise da arte, que já não tem certeza do que seja. Então uma roda de bicicleta ou um urinol, se deslocados para um museu, tornam-se objetos de arte. Essa a proposta de Duchamp, não é?

Mas Duchamp pouco se lixava para a felicidade do seu espectador ou para a produção de beleza.

Quanto mais se avança nesse campo, mais a definição de arte me parece vaga o bastante, subjetiva o bastante, para temer até pelo seu desaparecimento.

Chegará o momento em que não nos reconheceremos nem mesmo nas formas do passado e que afinal nos constituem em larga medida?

Sei lá… Me parece que essa questão é muito maior que eu. Quem quiser se aventurar…