Blog do Inácio Araújo

“Shame”, um verdadeiro filme de artista

Inácio Araújo

 

Há tempos eu não ouvia falar tanto de um filme e há tempos eu não esperava um filme com tanta ansiedade quanto “Shame”.

Havia muitos motivos para isso que não diziam respeito diretamente ao filme, como o fato de o diretor se chamar Steve McQueen, o que é estranhíssimo. Quis ver o filme em Roterdã, mas não tinha mais lugar. Era o filme mais procurado.

Então corri para vê-lo. E devo dizer que a decepção foi grande. “Shame” é um filme de artista. E em qualquer sentido que eu procure definir essa palavra, não há como soar positivo.

Sobre o que é o filme? A rigor, não sei. Em vez de ver o filme eu via os enquadramentos, tanto eles procuravam chamar a atenção para si mesmos. A decoração, aquele moderno perpétuo, igual, monótono, igualmente azulado e gélido em todos os ambientes, também não ajuda muito.

Mesmo no momento em que há uma tentativa de suicídio o filme chama a atenção não para o sangue, mas para o vermelho.

Lembrei do que disse o Godard, de que no cinema não existe sangue, existe vermelho. Sim, mas o impacto o que faz é o sangue. É preciso que o vermelho e o sangue se integrem, senão o espectador permanece indiferente.

E a sensação que eu tive é de que o público estava inteiramente indiferente ao drama do Michael Fassbender, embora pareça claro que ele é muito bom ator. Não era apenas eu.

O novo Steve McQueen, me parece, sofre de arte, do fato de ser artista plástico, isso ainda domina seu cinema e o sufoca tanto quanto o sexo sufoca seu personagem.

Habemus Papam

Já Nanni Moretti está em grande forma. Seu “Habemus Papam” é bem o filme de um italiano que bordeja o Vaticano a vida inteira. E a idéia de um papa em crise existencial, esmagado pelas responsabilidades, é muito interessante e desenvolvida com humor e sensibilidade.