Blog do Inácio Araújo

O silêncio do cinema por Carlos Reichenbach

Inácio Araújo

Desculpe, Sara,

Você pede que eu escreva alguma coisa.

Mas houve quem escrevesse lindamente sobre nosso querido amigo: o Daniel Caetano, o Valente, o Barcinski publicou um belo artigo também…

Eu não…

Não sei o que dizer.

Não sei dizer nada que resuma tudo o que vivi, aprendi, ri, partilhei com ele.

Eu lamento por mim, por você, pelo Eder, pelos tantos amigos.

Lamento pelo cinema, porque Carlão era o cinema, mais que um cineasta.

E muito mais pela Lygia, pelos meninos, pela Nora.

E pelo jovem Vebis, que ontem parecia que tinha sido abandonado…

Agora é essa outra hora. Um homem, só se conhece o sentido de sua vida depois que morre.

Carlão é muito querido, porque era absurdamente generoso, absurdamente gentil, mas, desculpem, não sei se foi bem conhecido.

Em torno do seu cinema havia certa condescendência. Como se aceitassem os filmes por causa da pessoa. Eu posso entender. Seu cinema parecia fácil, simples. Mas era a decantação de seu enorme conhecimento, de cinema, de música também, de literatura também.

Agora será preciso conhecê-lo. Ele conhecia o grande segredo. Ah, eu vi tontos dizendo que botar o Cauã Reymond no “Falsa Loura” era comercialismo… Ah, esses não sabem nem o começo da história. O que eu vou falar aqui? Responder? Nada.

Sim, Carlão sofreu porque seu cinema não foi, afinal, compreendido. Mas isso faz parte.

Azar de quem não entendeu. Azar de quem “não soube apreciar”, como diria o Jairo.

E como vamos ficar agora?

Quem vai descobrir os filmes mais improváveis para mostrar na Sessão do Comodoro ou para me dar de presente?

Quem vai pensar o cinema, recusar os brilharecos, xingar o cinema de roteirista, chamar o pessoal às falas?

Fim.

Chega de me intrometer no recolhimento de que, agora, todos precisamos.

Luto. Luto. Luto.

Luto e silêncio, querida Sara.

Carlão durante as filmagens de ''Amor, Palavra Prostituta'' (1981)