Blog do Inácio Araújo

Na Ressaca da Mostra

Inácio Araújo

Que balanço se poderia fazer da primeira Mostra sem Leon Cakoff, seu criador?

Pessoalmente, foi muito triste. Os dias antes da Mostra sempre foram ocasião de visitá-lo em seu escritório, desde os tempos da alameda Lorena. E de a gente marcar encontros que nunca se viabilizavam, porque ele corria para um lado e eu para outro.

Seja porque no ano passado Leon morreu no momento em que a Mostra começava, seja por azar, em 2011 houve vários problemas, com pessoas reclamando de remarcações de filmes, de atrasos, de problemas na legendagem, essas coisas.

Diga-se, ninguém xingava ou coisa assim: ao contrário, me parece que todo frequentador foi capaz de compreender o quanto foi difícil para a Renata de Almeida estar no velório do marido e, ao mesmo tempo, à frente de um evento dessa dimensão.

Bem, o fato é que não ouvi reclamações neste ano. E das sessões em que estive presente (a última foi “Era Uma Vez no Oeste” com presença da Cardinale em pessoa) nenhuma apresentou problema.

A melhor sessão

Tivemos grandes filmes novos, é verdade, mas o melhor para mim foi o retorno de “Raros Sonhos Flutuantes”, de Eizo Sugawa.

Foi a última obra-prima do cineasta japonês, de 1990, e veio como parte da homenagem a Carlos Reichenbach.

Foi Carlão quem terçou lanças para, primeiro em Tóquio, que se localizasse Sugawa. Estranho: ninguém sabia onde encontrá-lo. Isso foi em 1995. E Sugawa apareceu. Anos depois ele veio ao Brasil com alguns de seus filmes.

“Raros Sonhos”, de 1990, é ainda melhor agora, depois do “Benjamin Button”, pois tem semelhanças (aqui, uma mulher de 67 anos começa a regredir na idade), mas é tão superior que chega a assustar.

Rossellini, sempre

Acho que com Mostra e tutti quanti nem cheguei a falar de alguns belos lançamentos da Versátil em DVD.

Bem, de todos acho que a caixa chamada “O Renascimento – A Era dos Médici” é uma preciosidade. Há dois discos sobre Cosimo de Medici e um terceiro sobre Alberti.

É incrível como Rossellini sabe destacar aspectos (do Renascimento, da vida de seus biografados) e, a partir deles, dar conta de uma era, de um estado de espírito, de um momento privilegiado do conhecimento humano.

Fantástico.

Trem Bala

Não tem nada a ver com cinema, mas tem.

Então aí vai.

Todo mundo é contra o trem bala, pelo que vejo. Menos eu.

Fazer Rio-São Paulo de avião, por exemplo, supõe a angústia de tomar um táxi e nunca saber se chegamos em tempo a Congonhas.

Quando atrasamos, perdemos o avião.

Quando não atrasamos, o avião atrasa.

Quando o avião atrasa (ou não), o portão costuma mudar, e a gente tem de passar na correria de um lado a outro.

É preciso chegar no mínimo uma hora antes para despachar bagagem.

É preciso esperar uma meia-hora, pelo menos, na chegada, pela bagagem.

Pois bem: no trem bala o cara chegará de metrô à estação (incrível: em SP não há Metrô que leve aos aeroportos).

Pode chegar dez minutos antes. É descobrir a via, o vagão, entrar, acomodar a bagagem e viajar.

Uma hora e meia depois o cara chega ao Rio;

Ah, sim, claro, não há risco de Santos Dumont ou Congonhas fecharem por causa de mau tempo.

Não sei como isso poderá ser deficitário. Francamente.

Acrescente-se: indo a Campinas, fará uma ligação rapidíssima com o interior de SP.

Parandoem São Joséfará ligação idem com o Vale do Paraíba.

Indo a Campinas finalmente viabilizará o Aeroporto de Viracopos.

Como isso pode dar errado, eu não entendo.