Blog do Inácio Araújo

Os melhores cinemas de São Paulo

Inácio Araújo

 É interessante a iniciativa de pontuar as salas de cinema de São Paulo, o que faz o Guia da Folha anualmente.

Ao mesmo tempo, os critérios por vezes me parecem muito indicativos de certa relação com o cinema, que já não diz respeito ao espetáculo, mas a fatores mais ou menos exteriores.

Eu não desvalorizo o conforto, longe disso, nem a boa visibilidade, e muito menos a projeção, fatores essenciais à fruição de um bom (ou mau) filme.

Mas tenho a impressão de que certos fatores estão se tornando muito determinantes, em detrimento do filme propriamente dito.

Que um cinema ofereça lanchonete, e que essa lanchonete seja agradável, me parece um aspecto interessante ao frequentador do local, mas não propriamente ao espectador.

É algo que me leva ao cinema. Mas não é o cinema.

Esses fatores podem ser um tanto subjetivos. O Reserva Cultural tem um restaurante lá dentro; o Espaço Augusta serve sopa; não sei quem leva pipoca na sala…

Ok. Mas se eu não quiser sopa?

Eu posso ser levado por fatores insondáveis, como: decoração, tipo de pessoas que frequentam o cinema, distância da minha casa, etc.

Insondáveis digo: que não dá para mensurar numa pesquisa desse tipo.

Há outros que no meu modo de ver poderiam ser aperfeiçoados e nem são tão subjetivos assim. Por exemplo, há cinemas com boas livrarias não propriamente especializadas, mas com bom catálogo em cinema (e encomendam o que se pede). Passar um tempo na livraria pode ser mais interessante, às vezes, sobretudo para quem vai sozinho ao cinema, do que ficar na lanchonete.

Há cinemas, como o Livraria Cultura (os cinemas paulistas hoje em dia têm nomes inacreditáveis), onde, apesar do nome, nunca vi um mísero quiosque com livros de cinema lá dentro.

Claro, há uma baita livraria ao lado. Mas deslocar alguns para lá não faria mal algum.

Alguns aspectos são subvalorizados. A sala BNDES da Cinemateca é uma das raras, senão a única em SP, a poder projetar filmes 35mm no formato 1:33 clássico.

Isso não se consegue na sala do CCBB. A pesquisa destaca que as poltronas do CCBB são meio apertadas. Mas qualquer um se aperta (não chega a ser aperto, só quando comparado às poltronas mais novas e largas) para ver uma raridade por lá com mais prazer do que vendo um filme besta com gente te servindo pipoca.

No entanto, no CCBB nunca será possível ver um filme filmado em 1:33 integralmente. E isso conta, considerados os filmes que exibem lá.

Do mesmo modo, não vejo nenhum problema no ruído do projetor da sala Petrobrás. Ao contrário: sobretudo nos filmes mudos, esse ruído é muito bom, eu diria quase essencial. É um ponto a rever, também.

Já o Olido, que é um cinema essencial para o centro da cidade, espero que tenha melhorado muito desde que estive por lá.

Uma última palavra: no cinema (como no circo) o penetra é uma instituição secular, indispensável, bela. Acho que dela, mais do que de muita faculdade, saíram grandes cineastas. Como nós jornalistas não somos auxiliares da polícia, nem alcaguetes ou algo assim, não vejo motivo para apontar a falha de controle nas entradas de um cinema como um defeito. Não é problema nosso. Deixa a garotada curtir seu filme sossegada.

Uma outra última palavra: não percebi nenhum elogio aos cinemas que têm lugar marcado na platéia. Acho ótimo. Pessoalmente, me parece um hábito deplorável. Marco um lugar e se ao meu lado senta um chato que fica falando o tempo todo eu não tenho o direito de mudar para outro lugar. Uma chatice.

Dirão que aí não é preciso fazer fila etc. e tal. Conversa. Paulista adora fazer fila. Fazemos fila para entrar na sala mesmo tendo lugar marcado. Esse, aliás, é um espetáculo extra que esses cinemas oferecem.

Corinthians e seus corintianos

Lá vou eu sair em defesa dos fortes e dos opressores. Ao menos segundo o senso comum. Já vejo acusações contra as torcidas organizadas em geral, e as do Corinthians, em particular, por causa do terrível acidente na Bolívia de que todos já ouviram falar.

Sim, torcidas organizadas são meio selvagens, sabe-se, por vezes perigosas. Congregam pessoas pobres, que sofrem com a falta de educação e civilidade dedicados aos pobres por aqui.

Fazê-los evoluir, integrar a sociedade, em vez de se retrancarem em guetos e odiar todo mundo deveria ser uma tarefa geral, da Prefeitura e mesmo do Estadoem particular. Emvez de falar mal dessas pessoas, poderíamos começar a olhar para o umbigo de nossos próprios defeitos.

Isso é uma coisa.

Outra é: o marketing corintiano dedicado a valorizar a torcida, surgido no momento em que o time foi rebaixado, foi um achado notável, talvez genial.

Mas faz tempo que já deveria ter recebido um freio, ter sido moderado. Torcedor é para torcer, não para tomar seu time, que é parte de sua identidade, como sua identidade total. Isso é uma doença que a diretora do clube tem, sim, incentivado. Pela qual é, sim, em parte ao menos, responsável. Ela precisa ficar muito atenta a isso. Não é só na hora em que o cara mata o menino no estádio que isso se verifica. Não é só quando duas torcidas marcam briga em um lugar da cidade.

Essa mania de uma parte dos jornalistas esportivos de, a qualquer pretexto, tentar excluir organizadas dos estádios é cruel, boçal e sem vergonha. Organizadas são a única chance de os pobres verem jogos de seus times.

Desculpe me meter no assunto esportivo. Mas não é o esportivo que me interessa, aqui: é o marketing e é a TV.