Blog do Inácio Araújo

O X do Problema

Inácio Araújo

O X é a incógnita que grupos como Mídia Ninja (são os mais evidentes agora, deve haver bem outros) buscam desvendar e que desafia o mundo da comunicação.

Uma coisa me parece clara: é no universo da imagem que se dá o essencial do trabalho hoje.

As pessoas querem ver.

Uma coisa que o pessoal no Roda Viva não entendeu: pensou que o fato de haver material não montado significa desleixo ou precariedade.

Não é isso: significa o desejo de não impor significados através de comentários ou supressões. Trata-se de desprostituir a imagem.

Ler e reler: “Montagem Proibida”, André Bazin.

Mas este ainda não é o X.

Talvez seja o fato de vivermos num mundo pós-ideologias.

Nas passeatas podia de tudo: vegetarianos, por mais direitos para os cães, contra a corrupção, por condução mais barata etc.

Antes, os jornais davam conta disso.

Dois ou três bastavam, mas até dado momento havia seis ou sete em cada cidade grande. Eram a favor ou contra o Getúlio, mais liberal ou mais conservador, mais otimista ou mais pessimista, a favor do comunismo ou contra ele etc.

Mas a clivagem era razoavelmente clara.

E depois vieram as TVs. Junto com os jornais, é verdade.

Mas na TV a palavra sempre veio na frente da imagem.

A TV sujou a imagem: fez dela apenas um reflexo, confirmatório, do que dizia o repórter ou o âncora no estúdio.

Agora são muitos os pontos de vista, as insatisfações, as prioridades.

Como dar conta disso?

E quem?

Não há dúvida que, nessas alturas, a garotada está na dianteira, com um raciocínio rápido, por vezes desconcertante, muito conectado às inovações tecnológicas.

Não só os jornalistas. Também os da imagem (do cinema) talvez tenham de correr atrás em busca de respostas: há uma nova comunicação se estabelecendo. Ou talvez uma nova incomunicabilidade (os impasses de cada um, de cada pequeno grupo, talvez se mostrem intransitivos). Um belo de um X, enfim.

(Sei que há quem esteja por conta com o Mídia Ninja ou com o Fora do Eixo – não sei onde termina um e começa outro – , inclusive a amiga Beatriz Seigner. Meu problema aqui não é a eventual honestidade ou desonestidade deles, apenas o raciocínio).

Fim da Bravo!

Já houve o tempo do jornalismo segmentado.

Agora, a julgar pelo fechamento de revistas da Abril, esse tempo está passando.

A Bravo fechou.

Talvez isso ajude a reforçar a Cult, que resta, até onde sei, como a única revista geral de cultura a circular.