Blog do Inácio Araújo

Exercícios do Caos

Inácio Araújo

marcha

Não é, não por enquanto ao menos, do filme maranhense de Frederico Machado que se pode falar.

O caos vem das decorrências do artigo de Antonio Prata na Folha e, sobretudo, de suas decorrências na coluna dos leitores. Está ficando cada vez mais maluco.

Vejamos o que diz o leitor Sebastião Feliciano, de Taubaté, na edição de terça, 5/11:

“Como assinante da Folha, estou decepcionado. Não fica bem pegadinha de mau gosto, que nada acrescenta à credibilidade do jornal. Senti-me traído, pois elogiei a coluna de Antonio Prata (''Guinada à direita''), já que com ela concordei no que se refere à Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que é o que estamos precisando no momento. O Brasil necessita urgentemente de um governo forte, capaz de pôr fim à corrupção, entre outros grandes males que precisam ser combatidos.”

Minha dúvida agora é a seguinte: o Antonio Prata propôs um texto cheio de ironia, que muitos leram como sendo sua sincera opinião.

É um pouco espantoso: um texto daquele não nasce na cabeça de alguém da noite para o dia.

Mas o que propõe o leitor?

Será que está de gozação? Ou será que é mesmo a favor da tal Marcha?

Caramba: nem o papa sabe mais o que é a família, como ela se compõe, até ele já declarou ter momentos de dúvida, será que o leitor marchará com Deus, e quem é ele? e com a família, mas que família?, e pela liberdade?

Será tudo isso um repique do texto do colunista?

Será um humorista que nasce na cidade da minha avó ou será que ele acredita mesmo nisso?

Estamos caminhando para o exercício de um certo caos, talvez?

Meu Passado Me Condena

Meu-Passado-Me-Condena

Gostei do Fábio Porchat muito mais do que pensei que gostaria.

E do filme, que tem o título acima, também.

Não é aquele apanhado de grosserias que se passam por humor.

Mas o filme, em si, é horrível.

Agora, fosse eu o Fabio Porchat, faria uma imersão cinematográfica profunda.

Saber um pouco de Chaplin e Jerry Lewis, de Keaton e Tati, Gordo e Magro e tutti quanti.

Porque por ora o talento do cara vem mesmo é da stand up, da comédia falada, e suas gags são boas.

Mas não são visuais nunca. E nem são preparadas. Elas vêm em jorros verbais de que a ação é apenas complemento.

A direção do filme é de uma nulidade digna do cinema paulisto-carioca. Acho que é carioca, porque é um pouco mais crítica a coisa.

Só se sabe fazer campo-contracampo.

Exceto quando a filmagem é no Marrocos, coisa mais improvisada, e muda toda a linguagem, e passa a correr atrás dos atores só para cumprir roteiro.

E o personagem do amigo de Fabio que entra é um mala. Não só para o casal, Fabio e Miá, como sobretudo para o espectador.

Ainda assim, foi a primeira vez que vi algo fora da estrita imitação da Globo pegar o público. E isso é muito bom.

Agora, essa geração atual de comediantes tem como referência a TV. Pode funcionar no cinema, ao menos o Porchat, mas tem que dar uma de Jerry Lewis, se enfronhar em tudo, saber de tudo, ir atrás de tudo, ver os clássicos, muito.

Porque, no fim das contas, “Meu Passado Me Condena” não é senão uma comédia de recasamento. Anos 30. Do século 20. Não é que seja mal fazer isso hoje. É que é bom saber o que se está fazendo. É importante para o futuro, porque me pareceu que o Porchat tem ainda o que dar para o cinema.