Um filme de aventura ou Passagem pela Índia
Inácio Araújo
Faz pouco tempo, num debate, o Francis Vogler, respondendo a pergunta sobre o que pensava dos novos cineastas, disse, na lata: “Eu acho que eles não têm vida interior”.
Claro que não falava de todos. Mas soou como um bem achado desabafo.
Começo por aqui porque ninguém poderá dizer que a Beatriz Seigner não tenha vida interior. Quando terminou o secundário ela se mandou para a Índia porque queria conhecer melhor a obra do Satyajit Ray.
Depois, quando voltou ao país, com o projeto de “Bollywood Dream”, tinha acordo com um estúdio de lá. Mas lhe queriam empurrar todo o maquinário bollywoodiano, o que implicava, entre outras, aguentar o ventilador que ligavam a toda hora para balançar o cabelo das atrizes.
Ela preferiu pular fora e fazer o filme como independente. Essas coisas ela me disse há algum tempo e estou reproduzindo de cabeça.
O filme eu vi ontem e me parece bem corajoso, com seu tom documentário, uma espécie de espontaneidade que deixa o sentimento de tudo estar sendo inventado na hora. Certamente algumas coisas foram mesmo.
Daí, em parte, os altos e baixos do filme, que são muitos. Há momentos em que meu interesse se dispersava inteiramente. Mas, penso, também é que hoje esperamos filmes em linha reta, incapazes de nos dispersar, mas também incapazes de se aventurar.
“Bollywood” me parece um filme de aventura. De aventura do próprio filmar, primeiro. E aventura das três garotas, as três atrizes que vão tentar a sorte no cinema indiano e ao longo do filme acabam mesmo numa viagem espiritual, numa iniciação, num aprendizado do que seja a Índia.
E para que serve essa iniciação? Para nada. Quando o filme termina parece que estamos no vazio, no esvaziamento completo. E mais, num filme moderno: filme sem fim. Sem final, eu quero dizer.
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Sherise Brayer
19/07/2011 00:27:11
Thanks, a really good read - added to favourites so will head back for new content and to read other people's comments. Thanks again.
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marcia custodio
28/04/2011 17:33:58
Como vc disse ouvi dizer que o filme é interessante por mostrar aspectos da cultura da India. em uma visão feminina. Por que assiti-lo? Conheço a diretora Beatriz, que teve uma educação com muitos conteúdos culrturais e espirituais, além de bonita e inteligente, tem interesse pelos povos e costumes, APROVEITOU O QUE APRENDEU E ESTA PASSANDO AO MUNDO, neste filme, O QUE DIGERIU E INTEGROU. Vou assistir na sexta feira ou sabado para dar força ao cinema brasileiro. Assim ele ficará mais tempo em cartaz. Além disso 3 mulheres brasileiras! Quero ve. Vamos mulheres? Homens elas sçao interessante! Vamos conferir!Marcia
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marcos nunes
28/04/2011 09:52:47
Não vi este filme, mas certamente verei - como não sou jornalista, não tive o privilégio da pré-estréia para os críticos, essa coisa... Mas seu comentário me fezlembrar doutro filme, cujo título não me lembro. trata-se de uma recomposição da peça de Antunes Filho, Macunaíma, para o cinema, com cenas externas e muitas inserções. O título tinha algo como "açú", e o complemento "Coração de Macunaíma". Por que?Pelo trecho "tom documentário, uma espécie de espontaneidade que deixa o sentimento de tudo estar sendo inventado na hora. Certamente algumas coisas foram mesmo. Daí, em parte, os altos e baixos do filme, que são muitos. "Era assim mesmo, um filme cheio de altos e baixos, às vezes até meio trash, mas com partes super inventivas. Valeu a pena. Espero que este "Bollywood" também valha.
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