Blog do Inácio Araújo

Arquivo : January 2013

Primeiras impressões sobre o novo Oscar
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Inácio Araújo

Mas antes uma palavra para “Amor, Palavra Prostituta”, que passou sexta-feira, dia 25, na retrospectiva Reichenbach.

Não reparei direito em quem fez a pergunta, mas o sentido era: o filme resistiu ao tempo?

E eu disse: melhorou.

Não foi bazófia. Acho que aconteceu isso de fato. Os filmes do Carlão tendem a melhorar com o tempo, a maior parte deles.

No “Amor” o que se vê é uma torrente de relações falsas, de pessoas fora de si mesmas, incapazes de chegar a si: reagem ao mundo exterior, como Luis Carlos ou Rita, buscando aquilo que lhes é prometido (ascensão social, conforto, etc.). É um jogo de que o professor está fora: subir na vida, ganhar dinheiro, são coisas que não fazem sentido para ele. Assim como expressar-se ou fazer sexo. Ele é o negativo de Rita ou Luis Carlos. E Lilita não tem história, nem relação, nem nada: apenas uma vontade de viver meio larvar.

Um estranho grupo, nota-se.

Um grupo que se desfaz ao longo da história. Se desfaz pelo sangue, se poderia dizer: depois do aborto mal-sucedido de Lilita: evento radical que obriga cada um a buscar seu destino.

E o destino dos sem destino, Lilita e o professor, não é outro senão estabelecer uma relação humana entre ambos.

Nada senão isso. Nem se abre a hipótese de um amor futuro, ou de uma amizade, nada… É um instante, talvez. Talvez não. Mas nesse instante esses dois seres atingem uma espécie de plenitude, são sujeitos de seus atos. É muito bonito, como uma viagem a si mesmo.

É algo que, para mim ao menos, só virou evidência agora.

Adorei o filme todo.

“Amor” e “O Mestre”

Acho que não entrei no Oscar pelo melhor pé.

“Amor”, que me diziam ser o máximo dos máximos, é um filme incontestável. Tem uma maestria ali, nos tempos, na direção dos atores, nas elipses, que não se pode dizer nada.

Aliás, que atores. E que beleza ver Emmanuelle Riva de novo. Vez por outro ela fala e parece que estamos em “Hiroshima Meu Amor”.

Aliás, o Alcino Leite diz, sim: diz que ele é muito acadêmico.

Pensei e acho que ele está bem certo, como sempre: é o cinema moderno, nada mais. Longos planos, audácias sobretudo no tratamento da mulher e tal. Mas ficamos por aí. Repetem-se os grandes mestres modernos, sobretudo os psicológicos.

E, diz A.L., tudo está no lugar certo.

Penso naquele sonho do Trintignant. Está lá para dar um susto no momento em que o filme pode ficar sem assunto, mas é um tempo forte arbitrário que ele introduz.

Isso, no entanto, me parece secundário: o problema é que Michael Haneke despreza a espécie humana com tal intensidade que se a gente der uma soprada na retórica da compaixão que é a face mais ostensiva do filme, o que vemos é uma espécie condenada à degenerescência.

Há atrevimento, sim, em filmar a morte. E, entre tantas elipses, me pareceu repulsiva a maneira como mostra aquele assassinato. É uma coisa de uma crueldade sem fim.

Sob a delicadeza aparente está lá o Haneke de sempre: pronto a mostrar o pior de nós.

“O Mestre” tem um aspecto interessante: em vez de ficar na condenação dessas seitas absurdas que proliferam pelo mundo, tem seu foco na relação entre mestre (Philip Seymour Hoffman) e discípulo (Joaquin Phoenix). Ambos viciados na beberagem assassina que Phoenix é capaz de produzir. Iguais e diferentes. Phoenix traz inscritos os desequilíbrios da guerra (e talvez também os hereditários). Hoffman é sua face racional, produtiva, americana: aquela seita tem algo do radicalismo dos anos 1950, aquela solenidade de Politbureau do PC e tal.

Mas, para além disso tudo, me parece um filme de performance.

Performance de Phoenix. Espero que ganhe o Oscar. Merece (ele já ganhou um? Acho que não, não tenho certeza). Merece por se parecer tanto com outro e com ele mesmo.

Merece porque faz tudo que o Oscar e a arte dramática querem: representação, performance.

Hoffman, que já ganhou com performance, e que é o melhor ator do mundo hoje, faz qualquer coisa, serve muito bem de escada.

Foi menos do que eu esperava.



Alguns Dias em Tiradentes
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Inácio Araújo

Para evitar qualquer dúvida, já que Jean-Claude entendeu outra coisa, e talvez não tenha sido só ele, deixo bem claro que gostei muito de “Eles Voltam”, de Marcelo Lordello.

Tem ali, para começar, uma coisa de que gosto muito: vejo o filme e tenho tempo de, simultaneamente, remeter a outros filmes de que gostei. Um deles: “Alemanha Ano Zero”. O mistério que carrega aquele menino, que não se dissipa, sua errância, são coisas que se aproximam da menina do filme. Há um mistério nela que supera aspectos mais trabalhados no filme (a família de classe média, a formação, etc.), que leva todo o tempo a perguntar quem é ela, afinal.

Lembrei também do “Au Hasard Balthasar” e acredito que pelo mesmo motivo, com a diferença que o burrico do Bresson não tem um mistério, ele é o mistério em si, me parece. E não tem controle nenhum sobre o seu destino, como a menina do “Eles Voltam” em parte do filme. É levado. Como ela.

Fiz algumas objeções pequenas ao filme. Como certos saltos dramáticos que talvez fossem desnecessários. Isso pode acontecer por alguma dificuldade de produção. Mas pode também ser uma opção de autor. Afinal, o Renoir fez dessas a vida toda e não deixou de ser Renoir (talvez tenha sido graças a isso, a essa liberdade que se concedia).

Minha única objeção real ao filme é num momento ainda inicial, depois que o irmão sai. A menina fica ali bem como o Balthasar do Bresson. Mas o filme nesse ponto se ressente de algum tempo forte, que poderia surgir em um terror dela, em um primeiro plano, algo que vinculasse espectador e filme, sem violentar o seu espírito (essa coisa hitchcockiana em que o Kiarostami é mestre).

No mais, o filme tem essa virtude de vincular o espectador, sobretudo pela revolta: que pais são esses que largam os filhos na estrada?, que irmão é esse que de repente desaparece?, etc. e tal.

O espectador fica intrigado e curioso. E com isso “Eles Voltam” se constrói como um filme de extracampo, muito interessante.

Ah, outra pequena objeção: me parece que em dado momento, quando a garota encontra uma casa burguesa e uma moça também burguesa ali, tudo vai bem, mas o fato de sua família possuir uma casa nas redondezas faz com que ela transite do estranhamento à familiaridade muito rapidamente.

São coisas pequenas, talvez irrelevantes diante da originalide do trabalho. E mais uma vez Pernambuco se afirma como referência nacional em termos de estética cinematográfica e também de uma liberdade que nem por isso contraria a intransigência.

Deixo de lado aqui alguns momentos muito bonitos, muito fortes do filme e passo raspando pela questão política tão presente, quanto discreta. Não sei se chega a ser uma “questão”. São notações sutis, porém incisivas. Percepções de nossos desequilíbrios. Mais ou menos isso.

Doce Amianto

Também para que não haja dúvida: não gostei nada do filme cearense. Digo isso com o coração na mão, porque um dos rapazes, muito simpático, dedicou inclusive a sessão ao Carlão.

Mas é outra coisa que tinha em comum com o Jairo Ferreira: não suporto filme barulhento. E “Doce Amianto” não dá nem um pequeno refresco aos ouvidos. Pelo menos enquanto eu estive lá.

Lúcia Murat

Não lembro o título, que me pareceu bem confuso, do filme da Lúcia Murat. Enfim… Lúcia é uma mulher corajosa, ninguém duvida. Passou por guerrilha, tortura, o diabo. Vem construindo uma obra que se pode criticar por vários aspectos, mas nunca pela coerência.

Aqui ela não abre mão de seus princípios: foi guerrilheira (ninguém chame de terrorista), acha a luta armada justíssima, acha que houve mortes indesejáveis (casualties of war), mas nunca assassinatos da parte dos guerrilheiros. Etc.

Quem quiser aceitar, que aceite. Quem não quiser, não aceite. Desde “Que Bom Te Ver Viva” é assim que ela mostra o mundo. Não mudou. Não se arrepende de nada. Não acha nem mesmo que a guerrilha esteve errada. Não fundamentalmente, em todo caso: para ela, se não houvesse luta o Brasil seria não um país mas uma lesma desossada.

Há um canto à sua geração ali. Que até ela reconhece exagerado aqui e ali. Mas é isso. À sua geração e a Vera Silvia Magalhães, a militante fascinante que Simone Spoladore interpreta.

O mais interessante é a convivência entre os velhos militantes e a jovem protagonista: essa fenda de tempo entre a juventude e a maturidade que o filme não preenche. A protagonista será sempre uma garota…

Dito isso, eis um filme “en dents de sice”, para falar na língua que Lúcia Murat prefere. Alterna momentos excelentes a bobagens também enormes.

Gosto da idéia de ela ter um filho homossexual. Fala de uma passagem geracional sobre a qual Irene, a narradora, não tem controle (claro, há um quê controlador nessas pessoas da política). Não gosto de em dado momento o filho e o namorado aparecerem na cama sem mais nem aquela. Não é um filme sobre a vida sexual. Agora, se ela mostrasse uma transa da Irene ou dos outros velhotes também… Aí tudo bem.

Companheiro Daniel

A homossexualidade, sabemos, é um preconceito forte entre o pessoal da política. É interessante a L.M. lutar contra isso.

Mas não é tão verdadeira assim essa tolerância toda ou o pessoal mudou muito.

Em dado momento ela cita o companheiro Daniel.

Um bravo, bravíssimo guerreiro, até onde se sabe, e homossexual.

Eu estava no meeting, em Paris, em que ele e seu companheiro se declararam homossexuais.

Foi quando eu dei graças aos céus de esses caras não terem tomado o poder, porque era tudo de um obscurantismo eu diria papal.

Houve um que garantiu, indignado, que entre cachorros não havia dessas coisas…

Por aí dá para perceber a barra.

Essa autocrítica, a dos costumes, eu não vi no filme. Num outro, talvez… Daria uma boa comédia, para ser bem franco.


Para diretor de “O Império dos Sentidos”, não existia Japão autêntico
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UOL Interação

Dos diretores japoneses com quem estive – de maneira sumária, esclareço – Nagisa Oshima era o que se pode chamar de prima dona gentil.

Em Cannes, quando entrevistado por um grupo de jornalistas e cinéfilos que insistiam em valorizar Mizoguchi em detrimento de Kurosawa, que seria um ocidentalizado, ele explicava com paciência que essa história do Japão autêntico (aqui seria “de raiz”) é uma cascata. O Japão, dizia, não tem cultura própria. Ele se apropria de outras culturas.

Aí ele pegou um papel e desenhou um ideograma. Estão vendo? Isso não é do Japão. Vem da China. Da mesma maneira, e talvez por isso, o Japão pôde se apropriar da cultura americana tão rapidamente no pós-guerra.

E se Kurosawa é ocidentalizado, por gostar de Shakespeare e Dostoiewski, que dizer de Ozu, que se inspirava em Chaplin (agora sou eu falando), que em 1959 usava música inspirada no Jacques Tati… Etc….

O que é próprio do Japão, dizia Oshima, é o sentido do detalhe. A atenção às coisas mínimas, que em seus filmes (e não só) parecem se tornar fundamentais.

O que não significa que Oshima fosse um conformista diante desse Japão. Quem viu seus filmes sabe.

No livro da Lucia Nagib sobre a nouvelle vague japonesa – ele escvreve o prefácio – ele se refere aos sete samurais da NV: Shoei Imamura, Susumu Hani, Teshigahara, Yoshishige Yoshida, Masumura, Seijun Suzuki e ele proprio.

Foi o pessoal que rompeu com o sistema de estúdios, que, parece, no Japão era tão sufocante (mas à sua maneira) quanto o francês.

Essa geração se impôs em grande parte porque havia uma mudança geracional no próprio país, e sobretudo a Shochiku e a Nikkatsu se abriram para isso.

Oshima ficou célebre na cinefilia por filmes como “Garoto Toshio”, “O Enforcamento”, “A Cerimônia”, obras-primas, mas ficou famoso mesmo foi com o escândalo de “O Império dos Sentidos”.

Notável pornografia. Atrevidíssima. Um filme inteiro na cama. Todo o amor do mundo resvalando na morte. Parecia livro do Georges Bataille. O amor toca a morte, quanto mais intenso, mais se aproxima dela. É uma companheira de viagem.

E que companheira: no fim, Sada, a mulher, arranca o pênis do amante morto e sai pela rua enlouquecida…

Que coisa admirável!

É verdade, acho eu, que essa celebridade não fez muito bem a Oshima. Seu fim de carreira é um pouco melancólico. O sucesso pode ser um problema na vida de um diretor de filmes.

Mas, caramba, quando a gente olha, com exceção do Imamura, que depois dos anos 80 apareceu mundialmente mais, os seus companheiros de geração ainda são pouco conhecidos aqui, exceto pelo que passava na Liberdade.

Há um ou outro Suzuki nas locadoras. O Yoshida teve uma retrospectiva na Mostra há alguns anos. O Masumura tem um filme dele em DVD tambem. Agora, Susumu Hani, acho até que Teshigahara, neca. Nadinha. Uma pena.

Ah, eu ia me esquecendo… Numa viagem em 1995, em que a Fundação Japão, Jo Takahashi à frente, levou um bando de brasileiros até Tóquio e Kyoto, houve uma recepção, e Oshima apareceu com um quimono tão imponente que parecia Madame Butterfly. Acho que nessa altura ele estava meio que pirando. A gente nem chegou perto dele.

Pouco depois viria o derrame que o depauperou de vez.

É um desses grandes nomes do cinema da segunda metade do século passado. Desses que não se pode passar ao largo, um ponto forte dessa cinematografia tão notável como é a japonesa.

Que ele descanse em paz, mas que seus filmes sejam muito vistos.


Mãe Dinah vai ao Oscar
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Inácio Araújo

Que tipo de ansiedade especial desperta o Oscar nos programas de rádio e TV que fica todo mundo tentando prever, meses antes, o que poderá rolar na premiação?

Será que vence “Argo” ou “Os Miseráveis”? Spielberg ou Tarantino?

Já caí nesse conto. Não contem mais comigo para isso.

Não sei quem vai ganhar. Não sou vidente, melhor que chamem a Mãe Dinah.

O Oscar é isso mesmo: uma mistura de previsibilidade e seu inverso.

Claro que a função da imprensa é dar uma esquentada na coisa, tudo bem.

Mas há modos e modos de fazer isso.

Esses programas poderiam, ao menos em certos anos, ser pretexto para discutir o cinema, seus rumos, suas tendências.

Mas quando é para ficar na lenga-lenga de quem ganha quem perde, quem é injustiçado e quem não é, é deprimente.

Tudo aberto, tudo secreto

Há muito tempo há tentativas no sentido de bloquear os celulares nos presídios.

Agora, parece, certos testes funcionaram.

Noticiou-se que os presos reclamaram às operadoras, ou tentaram reclamar, que não conseguiam mais fazer as ligações…

Há um lado cômico nisso tudo, é claro: além de estar preso, com celular roubado, o cara vai reclamar da Vivo ou da Claro ou de seu lá quem.

Me parece, porém, que existe um outro lado.

O mundo hoje, ao menos o mundo brasileiro, tende à transparência.

Transparência que equivale a vigilância, por supuesto.

Existe um contrapeso aí que mais cedo ou mais tarde vai se manifestar.

Passemos.

A questão é que tudo que se faz tem de ser avisado previamente neste mundo.

Se você vai por um radar de trânsito na estrada é preciso que o motorista seja avisado.

O que me parece meio ridículo, já que a velocidade máxima, se for 90km/h por exemplo, é 90km/h em toda a extensão da estrada, e não apenas onde estão o radar e seu aviso.

Já aos presos ninguém precisa avisar nada.

Pode-se privá-los do sinal de celular e expô-los ao ridículo (foi esse o tom da cobertura jornalística) sem mais.

O exemplo é quase de comédia, mas a questão é outra: o universo prisional continua a não ter transparência alguma. É um mundo fechado, secreto, onde todos os direitos da pessoa são suprimidos e todos os direitos policiais são levados a extremo.

Isso começa nas delegacias, nos “interrogatórios” (vulgo torturas) e tudo mais.

O desarranjo profundo em que vive o Brasil (São Paulo, pelo menos, e creio que o Rio também) em termos de Segurança Pública passa, me parece, por aí.

Se há câmeras de vigilância em toda parte, devia haver também nas delegacias e presídios. Menos para os presos do que para investigadores, delegados, PMs, guardas penitenciários e tal.

(Não sou contra cortar os celulares nos presídios, não é isso. Sou contra fazer o teste a esse respeito sem nenhum tipo de aviso aos presidiários).

 


Começo de ano: o sim, o não, o talvez
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Inácio Araújo

 

 

Um fim de semana para ficar em dia, mais ou menos em dia, com o que está passando nos cinemas, depois mais uns dias de folga, isto é, de fome. Ou ambos.

O Som ao Redor – Sim

Eu já havia falado deste filme, notável estreia de Kleber Mendonça.

A história de uma rua de Recife, a rigor, com a sua diversidade de personagens e aqueles horríveis prédios da orla, todos nessa nueva subarquitetura horrorosa, meio novo rico, ou bem novo rico da cidade.

Mas, à medida que conhecemos os personagens vamos ver se desenhar, atrás de toda co-existência harmônica a história de sangue e violência do Nordeste.

Se o cinema pernambucano tem se destacado até aqui como o melhor desde os anos 1990, o melhor do Brasil, o mais consequente, tenho a impressão de que esta estreia nos diz muito, entre outras coisas porque se percebe que não foi um tour de force isolado, que o autor ainda tem muito a dar e, inclusive, a caminhar.

Em suma, uma unanimidade que me parece justa.

HaHaHa

Sheila, que costuma ser certeira na síntese, saiu-se com esta: “Não vi nada que a nouvelle vague já não tivesse feito”.

Com efeito, esse cineasta coreano, xodó da atual (e muito fraca, no geral) geração dos Cahiers, está muito próximo das coisas que a gente já viu ali nos anos 1960.

E no entanto… Desde a narração, desde aquelas fotos que resumem a conversa, entrando de tempos em tempos, algo é inédito nisso tudo.

Eu diria que, pelo menos, a personagem da menina, a garota com suas hesitações amorosas, seu vai e vem entre os dois caras, é muito, muito bom.

No (Eu digo No ao No?)

Não propriamente um filme sobre o Não dos chilenos a Pinochet, mas sobre o peso da publicidade na política.

Mas trata-se mais de fazer o elogio dos publicitários do Não do que de demonstrar como ideias semelhantes podem ser enunciadas diferentemente.

Ou, mais ainda, de como ao enunciar diferentemente certas ideias elas próprias tornam-se outras. Melhores ou piores, não importa, mas outras.

No caso, o que parece claro no filme é que vencer o Sim significava, em grande medida, enterrar o passado sanguinário da ditadura.

(Em todo caso, menos do que aqui, isso é certo).

Dito isso, eu também digo No a Pinochet. O que não significa que deva engolir, senão como informativo, esse filme bem mau estruturado, com uma série de falsos problemas (a questão familiar do Gael García só serve para encher lingüiça, por exemplo), que procede por saltos que mal compreendemos, onde mal nos localizamos, com uma câmera horrorosamente preguiçosa.

Na saída, Bernardo Carvalho arrisca a hipótese de que o filme seria feito à maneira da TV ou da publicidade da época, mas me parece difícil. No fim dos 80? Não.

Talvez a ideia fosse justamente se afastar dessa estética publicitária que o roteiro, afinal, consagra. Mas é só bem mal filmado.

Dito isso, quando a gente vai ver um filme sem esperar nada acaba não raro ao menos se divertindo um tanto. Eu também.

Pi

Por falar em B. Carvalho: ele odiou As Aventuras de Pi.

E declinou início e final, sobretudo, aquela história besta de encontrar a Deus, essas coisas, como horrorosas.

No que eu concordo inteiramente.

Mas isso é o que Macedonio Fernandez chamaria de “para agradar al comisario”.

É o que é preciso para um filme caro se pagar: Hollywood enfia umas mensagens idiotas e tal.

O que importa é o fantástico do filme: desde a bela cena de naufrágio, ao encontro com a ilha carnívora.

E, sobretudo , a permanente dúvida em que o filme nos deixa. Essa história de Pi, contada por Pi, é verdade ou é uma fantasia?

Nada disso me parece nulo. E a convivência do rapaz com o tigre no bote é muito boa.

B. Carvalho vê no tigre uma metáfora do rapaz. Pode ser. Eu vejo um tigre faminto.

Mas devo dizer que essas divergências do Big B. são sempre empolgantes. Sobretudo porque são acessórias.

Ego Trip

Já falei do Biccelli? Ego Trip é o relato de uma viagem de poeta ao Nordeste.

Em 1983. Um diário de viagem. O interesse vai e vem. Mas vai e vem que nem maré. É uma coisa necessária. Do que li nos últimos tempos, de nosso, é o que mais me encantou.

É uma vontade de vida feroz, invejável, que se faz escrita.

Até breve, amigos, e um grande, belo 2013.

 


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