Sobre Leon Cakoff
Inácio Araújo
Ainda estava em choque com a mais recente manifestação de leitor do Guia da Folha.
Um engenheiro, ele sugere que, como todos os leitores (que se manifestaram por escrito) gostam de tal filme e os críticos não, suprima-se a crítica.
A idéia geral do homem é mais ou menos a seguinte: se o consenso substitui o raciocínio, por que pensar?
O filme não seria um objeto simbólico que introduz algo no mundo e pede o trabalho de nosso juízo. Ele não tem futuro, nem passado. Esgota-se na “opinião dos leitores”.
Bem, sempre se pode argumentar que os críticos não são bons intelectuais, que se colocam diante do objeto de maneira arrogante e que essa arrogância corresponde à sua ignorância.
Pode ser. Ainda assim…
Nisso estava quando chega o artigo do Leon Cakoff de domingo, na Folha: um belo relato de sua situação de saúde, de que tomara conhecimento há alguns dias e que, para falar a verdade, tentei fazer como se não existisse, tentei negar.
Não foi da Mostra que lembrei primeiro. Foi dele como crítico. Foi de nos ter trazido, mostrado, aberto os olhos para Manoel de Oliveira, Abbas Kiarostami, Amos Gitai e tantos, tantos outros. Sem falar das grandes mostras do cinema iraniano, Roger Corman, Satyajit Ray, Yoshida. Sem falar dos livros que lançou, como aquele, formidável, sobre Ozu (do Yoshida) e tantos outros. Ou daqueles em que teve a gentileza de me convidar para escrever, como “Os Filmes da Minha Vida”.
Um crítico é isso: uma partilha de conhecimento. Leon tem levado a Mostra com força. Não agora, que o vento sopra a favor. Mas quando, contra, tinha a ditadura, a burocracia, a falta de patrocínio, a concorrência do festival do Rio, com muito mais dinheiro.
Mas, diante de todas essas dificuldades, Leon nunca deixou de organizar a melhor Mostra possível, desenvolvendo uma concepção clara do que queria: um cinema humanista, progressista, resistente quando preciso, sempre vivo, sempre ligado à vida.
Leon sempre foi muito acusado de ser um tirano e um chato. Deve ser mesmo. Quando se tem a ambição que sempre teve, quando se tem (mal e mal) os meios de desenvolver uma idéia, não se pode ser diferente. A Mostra de SP sempre foi “a mostra do Cakoff”. Ninguém duvidou disso nunca, nem a Renata, seu braço direito e também esquerdo. E por isso se firmou como um evento dessa importância.
Isso é trabalho crítico. Ele é abrasivo, implica em escolher A ou B, ou ainda A contra B. Não é sua essência, mas passa por aí. Talvez nosso engenheiro ache que André Bazin não vale nada porque gostava de um cineasta pelo qual hoje não se dá grande coisa, como William Wyler. É possível que isso não interesse muito aos leitores que protestam, para quem a divergência é uma espécie de sinônimo de ofensa. Em todo caso convém lembrar dessas coisas. Assim como a curadoria que certos críticos fazem para mostras do CCBB, digamos, ou para festivais. Ou o trabalho de revisão de certos autores. Ou de divulgação de certos livros. Etc. etc.
Alguém poderá dizer que a sugestão foi uma piada, apenas, um lance de humor. Não digo que não: está na linha do humor de TV com que vez por outra me deparo (efeito zapping) e do qual fujo correndo, porque a barbárie chega a jato.
Na outra ponta dessa história existe Alcir Pécora, o crítico literário que ressuscita a crítica literária.
Não gostaria de passar em branco por essa história, não.
Mas, por agora, torço muito para o Leon se safar dessa, produzir belas críticas com que concordarei ou de que discordarei, e, sobretudo, nos dar a Mostra ainda por muitos anos.
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01/09/2011 03:47:47
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31/08/2011 01:11:15
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Clemencia Shike
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Inácio Araujo
12/05/2011 18:18:44
Será que fizeram vistas grossas? Francamente, eu tenho memória ruim e não me lembro de ter visto o primeiro filme que vc. menciona. Quanto ao segundo, não me lembro da cena, mas acho que uma cena está longe de definir um plágio: é uma lembrança, até um empréstimo. Isso é coisa normal. É um pouco diferente daquele "À Deriva" que, de fato, é muito carbono de um filme aí, australiano ou neozelandês. Mesmo assim não se pode falar em plágio: é uma coisa difícil de provar.
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Inácio Araujo
12/05/2011 18:14:39
Ah, mas o Guido é notável. Viva eles.
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Inácio Araujo
12/05/2011 18:13:00
Verdade, Vitor, os críticos também devem ser criticados. Isso é claro: senão não existe discussão possível, troca de idéias, nada disso. Outra coisa é negar a crítica, o que significa deixar tudo na mão da publicidade.
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business
10/05/2011 06:31:57
Nunca se assumiu como um blog e agora cientificamente definido nao se rodeou de pares ou blogs parceiros nao se interessava por muitas outras visitas. Terrence Malick o poeta visual do belo da essencia deste do cinema como camara natural da poetica do Homem e da sua alma nos seus principios como Natureza da sua renovacao como existencia.
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carlos graziano
06/05/2011 13:27:02
Inacio, não sei seu mail por isso escrevo neste espaço, porque hoje sai na midia noticia sobre possivel plagioj- quer lembrar aos críticos dois filmes que nem sequer citaram os origianais como homenagem em linhas finais.Em 2005 os roteiristas do filme SE EU FOSSE VOCE (2005)cópiaram a idéia do filmeFREAKY FRIDEAY de 2003(Eua)no Brasil com o titulo Sexta feira muito louca.Quem assistiu sabe disso.Críticos fizeram"vista grossa"porque será?. Outro filme brasileiro que COPIOU UMA CENA foi o filme O ANO EM QUE MEUS PAIS SAIRAM DE FÉRIAS(2006)a cena do menino no telhado copiado do maravilhoso filme MINHA VIDA DE CACHORRO (1985)-deveriam ao menos ter escrito no final que a cena foi em homenagem ao filme.
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allegro
05/05/2011 12:47:39
Diria que é um estado de coisas: o sujeito perde tempo escrevendo uma carta porque se vê no direito de dispensar essa voz que discorda dele, porque não admite que exista uma reflexão que é própria do meio e que caminha independentemente do que ele ou o resto da humanidade pensa.Também me incomoda esse antogonismo crítica X artista: Quando o Tarantino faz um filme inteiro falando sobre cinema alemão, matando o hitler e resgatando um monte de gêneros e artistas obscuros, ele não faz crítica de cinema?
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marcos nunes
05/05/2011 10:01:49
O papel do crítico é analisar a obra, extraindo dela as implicações possíveis e, sempre com argumentação precisa, ressaltar suas qualidades, destacar seus defeitos, concluir se ela possui méritos e, se os possuindo, se eles superam seus aspectos menos meritórios (um exemplo interessante aqui é Nascimento de uma Nação, de Griffith).Se o crítico chegar a conclusão que tal artista, definitivamente, não merece crédito, pode expor isso, desde que não seja expressão de preconceitos de toda ordem ou, mesmo se for expressão deles, que isso fique claro: não gosto de fulano porque tenho tal posição ideológica ou estética, por isso esse artista me é intolerável.Costumo gostar dos mesmos filmes que Cakoff gosta, como os de Manoel de Oliveira, mas nem todos, inclusive alguns do citado cineasta português.Há de se ter coragem também de assumir algumas posições contrárias, sobretudo, a mesmices e a certas reputações. Ainda quero viver para ler um crítico de qualidade desmontar o cinema-ensaio-metido-a-besta de Godard; nem é difícil contestar tantos maneirismos e cacoetes, o ruim é ter que ver os filmes deles para anotar cada manifestação deles.Mas este crítico, em especuial, o Cakoff, está entre aqueles que devemos levar em consideração. Ao contrário de alguns, é um crítico que ama o cinema e, ao contrário de outros, o amor ao cinema não se manifesta de forma afetada, fixada a formas de cinema ideais ou experimentalismos estéreis. Viva (no sentido de continuar a viver mesmo), Cakoff.
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Vitor
04/05/2011 11:42:56
Acredito sempre num equilibrio. Se a críticos fazem críticas de filme, também precisam ter consciência que também serão criticados. E bem ou mal, a crítica é uma coisa inerte no ser humano. Mesmo por menos bagagem cultural que uma pessoa possa ter, ela sempre carregará resquícios de criticar, mesmo que seja o mais pueril dos pensamentos como: isso é bom, isso é ruim. E me lembro muito bem da crítica que Leon fez na Folha, e realmente concordo que hoje existe uma crise na crítica. E um dos fatores que me preocupa bastante, é como está ocorrendo uma etilização do pensamento crítico, voltado somente para uma classe mais abastada, e não para uma classe que não pode ver filmes ou mesmo que está em formação. Não sei, se isso é algo realmente verdadeiro ou uma suposição . Mas não sinto um crítica voltada em contribuir para formação de novos espectadores ou cinefilos. de ir ao cinema, mas não me estenderei muito. Um bom dia Inácio.
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Jota
03/05/2011 21:49:20
Olá Inácio, há tempos acompanho seu trabalho como crítico. Quando garoto, 12, 13 anos, no interior de São Paulo, já lia suas críticas na Folha de São Paulo. Não tinha cinema na cidade, nem TV por assinatura na minha casa. Pegava o jornal, lia suas críticas e mergulhava no que a TV aberta oferecia. Filmes da madrugada, o Corujão, Intercine e outros espaços. Não ia varar a madrugada sem um aval mínimo. E foi lendo suas críticas que passei a compreender melhor os filmes, a expandir meu gosto pelos diversos gêneros. Um garoto aprendendo a gostar de cinema. Foi com você (se me permite a informalidade) que me consolidei cinéfilo. Depois vieram outros críticos, outros textos, outros teóricos, importantíssimos para o debate, para o progresso. O Cakoff é um ilustríssimo exemplo. Confesso que fiquei pasmo com essa corrente anticrítica. É a mais pura demonstração de obtusidade que já vi. O texto, a crítica e o debate são essenciais. São formadores, expandem o conhecimento e não dá para ser diferente. Suprima-se a crítica? É triste alguém insinuar uma barbaridade dessas. Enfim, sejamos melhores do que isso: críticos, quem gosta de cinema, quem gosta de debate, quem gosta de ideias (convergentes ou divergentes), quem gosta de refletir, etc...
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Edson Filgueiras
03/05/2011 17:30:07
Engraçado, Inacio. Aqui em Salvador tem-se a mesma impressao de Guido Araujo: "Guido é concentrador, não permite que ninguém além dele tome decisões etc." é o que dizem. Não o conheço, mas se tanta gente fala deve ser verdade. Mas verdade maior ainda é que ele ergueu e sustentou a Jornada Internacional de Cinema da Bahia, um dos mais antigos festivais de cinema do Pais, que se hoje não tem tanto brilho, tem um passado que faz inveja. Se o preço disso foi ser antipatico, autoritario, pode ser uma pena para quem viveu de perto com ele, mas foi muito bom para os amantes do cinema da Bahia. Viva Guido Araujo, viva Leon Cakoff e viva o cinema brasileiro, que tanto deve a homens como eles.
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Inácio Araujo
03/05/2011 17:19:11
Ah, caro Allegro, mas pela internet rola muita bobagem. Não me incomoda tanto. Já o cara que escreve para o jornal toma tempo, em geral articula idéias (ou pelo menos frases), de maneira que isso me parece mais preocupante.
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Hermes
03/05/2011 14:53:27
Ah, Inácio! Se eu acreditasse em reza, rezaria muito por você!
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nane
03/05/2011 09:24:08
O meu domingo se transformou após a leitura do comovente artigo de Leon Cacoff, sempre o associei pela "luta" por trazer bons filmes para o festival, mas agora a luta é pela vida, com coragem e ânimo, ainda bem que existem críticos de cinema, que além de conhecerem e partilharem desses conhecimentos ainda tem a sensibilidade de escrever sobre o enredo + emocionante: a vida de alguém que ama o cinema, abraços!
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allegro
02/05/2011 18:10:28
Pois é inácio, também acho que essa atitude de demolição da crítica, como se a mediação do objeto artístico fosse uma mero estraga-prazares um ponto problemático da internet.
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