Imagens da fé
Inácio Araújo
Qual será a religião da era internet?
Na era do cinema o catolicismo imperou. Só Dreyer, o protestante, foi exceção, aproximando o natural do sobrenatural, o homem do milagre – Deus e os homens, em suma.
No catolicismo, essas duas esferas são distantes. Existem até os santos para interceder por nós.
Em compensação, o espetáculo sempre foi um forte do catolicismo: procissões, festas, fogueiras (com gente dentro), desfiles com bispo e imagens. Tudo isso sempre foi sua força: a distância entre o nosso mundo e o de lá, o da vida eterna.
O catolicismo produziu Hitchcock e Buñuel, Rossellini e Pasolini, Bresson e Rohmer.
Já para não falar dos coroinhas, como Zeffirelli.
Mas o tempo do espetáculo solene passou.
Veio a televisão e, com ela, o coloquial: os pastores neopentecostais. O natural e o sobrenatural se aproximaram de uma maneira talvez inédita, diferente em todo caso.
Eles vêem o diabo em toda parte. Tudo se explica pela presença do demônio: desemprego, vida conjugal, vida sexual.
Exorcismos em massa. Ah, e o velho professor Lemgruber, do velho “O Povo na TV”, que comeu o pão que o diabo (ele mesmo) amassou por causa de suas curas rápidas!!!!
Eram rápidas, porém leigas.
Agora é diferente. Não há mais doentes: todo mundo está endemoninhado.
Tudo depende de fé. De muita fé. A fé remove montanhas. Tudo depende de cada um de nós, em suma.
Os neopentecostais, pode ser contra ou a favor, tanto faz, fizeram isso: jogaram a responsabilidade nas costas do fiel e em sua relação direta com Deus.
Deus e o homem tornaram-se próximos, quase íntimos.
E também aproximaram o mundo espiritual e o material, que os católicos mantêm solidamente divorciados.
Na TV, o pastor promete que, com fé, você terá casa própria, essas coisas.
Na Rede Vida, às 6 da tarde, um bando de carolas puxa o terço. É uma espécie de anti-marketing, acho…
Há pastores que fogem com dinheiro para o exterior, demonizam a umbanda… Mas ninguém pode reclamar muito do lado católico: em matéria de demonizar outros credos, não há quem tenha mais know how do que a Igreja Católica.
O pessoal da umbanda, claro, poderia reclamar muito.
Os espíritas reagem com filmes. Aqui no Brasil, em todo caso. Mas eles não aspiram, nunca aspiraram a ser majoritários. Querem ser respeitados.
E o catolicismo?
Bem, fez aquele filme lamentável sobre Aparecida.
Milagre de verdade seria a Tizuka fazer um filme bom.
Os católicos estão por fora da TV e, agora, também do cinema.
O pe. Marcelo queria cantar para o papa novo. O papa não quis nem saber. É um aristocrata.
Então, o Vaticano tentou o teatro: a beatificação de João Paulo II.
Para começar, perdeu o timing. Todo mundo estava preocupado é com o espetáculo do casamento real na Inglaterra.
O povo prefere casamento a canonização, está na cara.
O casamento é uma experiência ao alcance de todos, gera identificação. Beatificação gera, quando muito, respeito.
O século 21 não é do respeito. Nem da devoção. É tudo de igual para igual. Tempo da democracia: de cuidado com o Demo. Com Deus é preciso falar de igual para igual.
Isso até agora, claro. O século 21 passa muito depressa. Deverá haver muitos séculos 21 ainda. Não sei nada de teologia, mas pergunto para onde, em termos de comunicação, caminhará a fé.
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01/09/2011 03:43:23
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Anderson
10/05/2011 02:19:45
"Milagre de verdade seria a Tizuka fazer um filme bom.", até o momento, a melhor frase escrita em uma critica cinematografica neste ano..
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marcos nunes
09/05/2011 13:24:42
Embora seja ateu, respeito Dreyer, no passado, e Bruno Dumont, no presente. Respeito como cineastas, não no sentido de que não deixo de zombar da crença deles nalgum deus e na filiação partidária e católica (ou protestante, tanto faz). Aceito alguns de seus (deles, Dreyer e Dumont) argumentos a respeito dos mistérios da solidariedade e compaixão, para não dizer da vida mesma. Ok, mas a fé torna isso tudo um tanto ridículo. Quando uma palavra pode ser ao mesmo tempo substantivo e adjetivo e, sobretudo, não pode ser definida, conceituada e tomada por aquilo que ela é, subproduto da imaginação humana, situa-se no regime do dogma. Dogma, qualquer um, é uma tolice inominável.Hoje, deus é dinheiro, dinheiro é deus, assim, quase sempre foi, agora sem disfarces. O novo papinha vive com seu pires na mão, brandindo argumentos intelequituais que não uma mão estendida para captação de euros, dólares, ienes, até reais.
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Chico Amorim
08/05/2011 18:51:09
ótima pergunta, Inácio. Péssimos comentários, senhores leitores. O Inácio fez uma pergunta que é uma provocação, não pelo que há ou possa haver de provocação imbutida nela, mas pelo que há de LÚDICO. Seria mais ou menos assim: No que acreditam, como transcedência ou não, a geração Infernet? E, agora eu suponho com quase certeza, que ele se questiona sobre a ESTRUTURA dessa fé, como ela se manifesta, ritos e mitos, e aí então, a que religião ela se assemelha. Troquem a tela de cinema pelo altar e o cinema se parecerá já com uma missa católica. A Cahiers chamavam-na de Bíblia. Coisas assim, mas não só essas. Mas o próprio Inácio nos alerta que o catolicismo está mais próximo do Teatro. Se pensarmos bem, o espiritismo se assemelha mais ao cinema, coisas como o ator corporificar um personagem, materializa-se um roteiro.... Para, ao final, vermos um vulto, uma luz na parede. Nos neopetencostais vejo algo de budget, algo de material, celular com câmera, Tv's leds 44', essas coisas assim: imagens que substituem a outras. Lembro do caso de um pastor que destruiu uma imagem de Nossa Sra. Aparecida ao vivo pela madrugada num programa de tv. Uma imagem que destrói a outra. Acho que um fim de mundo inteligente ocorreria com todas as coisas buscando a sua autodestruição abertamente.
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nane
07/05/2011 22:55:21
Ainda bem que filmes, padres Marcelos e até papas não são a verdadeira essência do catolicismo, sou católica praticante, acho que missa é satisfação não obrigação, tudo com muita fé. Prefiro não falar nada de religiões ou crenças que eu não conheço, mas valorizo todas, cinema não serve como base para entendimento de religião nenhuma. Bom domingo Inácio.
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santo dízimo
07/05/2011 11:41:33
"Pequenas igrejas, grandes negócios."Todo mundo já ouviu o pequeno ditado acima. A nova é que as igrejas descobriram o cinema como forma de gerar Hype e fazer uma bela propaganda de sí mesmas. Credum quia absurdum est.
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Carlos T.
07/05/2011 11:35:35
Muito pelo contrário. O autor demonstra ser muito lúcido e enxerga estes filmes exatamente como eles são: peças de propaganda. Não passam disso, peças de marketing para extrair mais fiéis e seus 10% (ou mais).Pequenas igrejas, grandes negócios.
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Márcio Caldas
07/05/2011 11:29:49
Excelente texto. Mostra como as novas religiões estão criando seu hype na era da internet, enquanto a tradicional já demonstra certa preocupação com a perda de fiéis, mas sem fugir do tradicional, através destes espetáculos de canonização e beatificação, seu trunfo sobre as religiões dinheiristas que pululam nesta pobre terra brasilis.
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helton
07/05/2011 09:35:34
Nunca vi tamanha coleção de idiotices arrumadas assim num texto...Quem quer se comunicar tem que saber e conhecer o objeto da comunicação. Se se fala de fé, um mínimo de estudo é necessário; sem esse mínimo, virão essas barbaridades. Estude senhor jornalista!
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walter santos
07/05/2011 06:12:12
a igreja catolica não precisa de multidoes de infiél mas de fiéis com responsabilides. tambem não precisamos de grades produçoes basta nos lembrarmos do que cristo fes por nós
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danailee
07/05/2011 02:33:57
Onde foi parar o meu comentário? Sumiu?
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danailee
07/05/2011 02:32:07
Inácio, muito bom o seu estilo. Você falou sobre as mazelas de toda e qualquer religião, sem perder o ritmo e a leveza. Se é que esse assunto possa ser classificado como leve. Na verdade, é mais pesado que o chumbo. E mais indigesto. Infelizmente, as pessoas não conseguem perceber que religião é um assunto absolutamente pessoal e intransferível. Não adianta a gente querer passar o bastão. O único responsável pelas próprias dores da alma é a própria pessoa. Isso é inalienável. E, entre a fogueira "recheada" da igreja católica, o sectarismo e segregação da igreja evangélica,de qualquer denominação, como eles costumam dizer (agh..), os mulás que não sabem ler o alcorão, a separação entre homens e mulheres nas mesquitas, a discriminação contra as mulheres nos veículos públicos judeus, o uso da degenerada burka, o uso do cilício (pasmem) até hoje, a ablação feminina, a circuncisão dos meninos,que até, parece-me, a Angélica aceitou, a perseguição aos candomblés, fico modestamente no meu canto.Meu Deus não é esse amontoado de interesses, conveniências e ignorâncias. Meu Deus é alegre, gentil, amigo, sábio..
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