O cinema está de volta
Inácio Araújo
E já não era sem tempo: estamos entrados em agosto.
Todo mundo há de convir, este tem sido um ano de amargar para o cinema até aqui. Tirando o Oliveira, o Kiarostami, não me lembro de mais nada que de fato valha a pena. Devo estar esquecendo de alguma coisa, mas… não de muita.
Isso para dizer que de repente entraram alguns filmes que mudam todo esse panorama sinistro. Dos que vi, “A Árvore da Vida”, do Terrence Malick, me parece uma acabada obra-prima. O máximo difícil de expor em poucas palavras.
Remeto ao texto que escrevi na sexta-feira para a Folha. Acho que ali mais ou menos consegui dar conta da coisa quase sem fim que é esse filme.
Perto dele, “Melancolia” virou um bom três estrelas. Um bom filme de Lars Von Trier, com imagens muito fortes no final e um olhar sempre original para as coisas. Mas, não sei, não é forte como o filme da Bjork, por exemplo. Ao menos é o que sinto agora: demorei séculos para reconhecer o interesse do filme com a Nicole Kidman.
Não vi “Super 8”, mas dá para botar fé. Não vi as famosas séries que o J.J. Abrams criou, mas o “Star Trek” foi uma bela surpresa.
O filme que me deixa meio perturbado é o do Hugo Carvana: “Não Se Preocupe Nada Vai Dar Certo”. Os colegas do Guia da Folha, que dão as estrelinhas, ao menos os que já viram o filme, mostraram infinitamente menos entusiasmo do que eu. Me senti um pouco solitário.
Embora esse não seja um sentimento de todo mau. É como quando passou o filme do Saraceni, “O Viajante”, na abertura da mostra anual do Cinesesc: um monte de gente deixou a sala. Mas é um grande filme, quem gosta de cinema notou.
Talvez o do Carvana não seja um grande filme, o tempo vai dizer. Mas existe uma diferença quase ontológica dele em relação às comédias brasileiras que tenho visto, que parecem ter como finalidade o nada. Uma espécie de Nirvana da nulidade.
Bem, o filme do Carvana tem aquela tocada anarco-carioca bem dele. É um filme de ator. Com o ator. Pelo ator e para ele. A arte de atuar, de ser outro. Essa arte tão próxima da vigarice.
E o que ele nos mostra? Esses atores, meio vigaristas, usando sua arte para enfrentar os outros vigaristas, os de verdade.
Não é o tipo de comédia para rir a bandeiras despregadas, até porque existe o cuidado de desenvolver um raciocínio, gentileza um tanto rara hoje em dia.
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Inácio Araujo
22/08/2011 14:14:03
Bem, o Carlão falou... E daí eu raramente discordo. Uma das mais belas dessas solidariedades solitárias, para mim, foi quando Jairo Ferreira, Carlão e eu concordamos que "O Viajante" era um grande filme, quando o filme do Saraceni estava sendo enxovalhado.
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Inácio Araujo
22/08/2011 14:06:54
De fato, Marcos, eu diria que meus sentimentos em relação aos filmes do Carvana não são muito fixos. Acho que ele tem acertos notáveis e em outros momentos os filmes me interessam bem pouco.
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Fernando Vasconcelos
21/08/2011 11:40:49
Inácio, depois de rever A ÁRORE DA VIDA, filme que nunca se esgota e raríssimo exemplo de filme contemporâneo que fala com as imagens, fiquei com a mesma impressão sua sobre Melancolia, de Lars von trier, filme que murcha para um 3 estrelas correto, depois de um tempo. Sobre o comentário do colega acima sobre DESENROLA, taí o melhor filme nacional que vi esse ano, gostei muito. Por fim, aqui no Recife só passou no início do ano, aí em São paulo seria do ano passado, mas dos melhores filmes que vi em 2011 foi MINHA TERRA AFRICA, de Claire Denis, um filme espetacular, assombroso, muito mais contudente sobre o fracasso da civilização do que o de von Trier. E ainda tem Isabelle Huppert que... bem... não precisa nem falar, tem que VER.
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Leandro MOraes
18/08/2011 17:47:47
Sobre o filme do carvana, eu vi o trailer no "altas horas" e achei fraco. No entanto, ninguém deu uma explicação clara sobre o que era o filme. Apenas jogaram as imagens lá. Não sei se ainda não descobriram como fazer um trailer legal ou quem estava no programa não soube explicar a história. Aí eu pensei "mais um filme daqueles ruins".Porém, lendo um parágrafo do que você disse sobre a história, o conteúdo, já fez aquela impressão ruim passar.O que não passou é que talvez as filmagens não tenham sido lá tão boas, mas a idéia é legal. Dá pra assistir sim.
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Carlos Reichenbach
18/08/2011 02:07:05
O mesmo encanto solitário aconteceu comigo e outro filme do Carvana, "Apolônio Brasil - Campeão da Alegria", com um Nannini digno de antologia e um belíssimo trabalho de direção. Me indignou o tratamento protocolar recebido pelo filme, na época. "Apolônio Brasil" é uma das comédias mais melancólicas e um dos filmes mais humanos e amorosos realizados pelo cinema brasileiro recente. Talvez isso soe mal e inoportuno nos dias de hoje; principalmente para aqueles que incensam o cinismo "fascio" de um Michael Haneke.
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Marcos Anton Nogelli
14/08/2011 15:39:18
Inácio, vc mudou muito a opinião sobre o estilo do Carvana, não. Pois me lembro bem que vc malhou por anos o "Bar Esperança" (mas não só ele) como uma espécie de resistência muito oficial, coisa da Embrafilme, mais ou menos com estas palavras. E gosto muito do Carvana, incluindo os dois últimos ("Apolônio Brasil" mais que "Casa da Mãe Joana"), mas detestei "Não Se Preocupe Nada Vai Dar Certo". É como se a pureza tivesse virado puerilidade. O final no palco chega a ser constrangedor, e as supostas viradas de roteiro, coisa dos anos 40, não revistas e renovadas, mas como se estivéssemos nos anos 40. Outra coisa: o estado da comédia popular do cinema brasileiro atual, leia-se globochanchadas, é de chorar. Mas nem por isso a gente deve apoiar um outro exemplar de cinema cômico nacional, apenas por fazer contraponto ao que tem prevalecido. A gente acaba atrelando o valor do filme como reverso da moeda, e não por si só.
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Marcio
14/08/2011 10:59:44
Como um critico de cinema pode fazer uma resenha dos melhores filmes sem ter visto quase nenhum? Super 8 'e ruim, Arvore da vida 'e um lento e chato. Segue os melhores que assisti no cinema esse ano: Rise of Planet of the Apes, Meia-noite em Paris, The Help, Bridemaids.
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leandro
14/08/2011 09:25:49
Voce nao tem opiniao propria?
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Marcus Pessoa
13/08/2011 23:00:46
Uma comédia brasileira recente que eu gostei muito foi "Desenrola". Você viu, Inácio? Tinha tudo pra ser um filme teen descartável, mas (a) é genuinamente engraçado (b) não copia o humor da TV (c) mostra o universo teen com realismo e sem afetação.
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teixeira
13/08/2011 22:14:11
dizer que a Árvore da Vida é "uma acabada obra prima" é o mínimo que se pode dizer, em poucas palavras. É, sem redudância, arte pura!
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Marcos
13/08/2011 20:58:47
Quantos filmes deixei de assistir no cinema após ler críticas nada positivas sobre eles e depois, em DVD, descobrir que as obras cinematográficas não eram tão ruins assim. Por isso, quero que vocês, críticos de cinema, todos vocês se explodam!
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