Canudos na Rocinha (e Rocinha na USP)
Inácio Araújo
Devo estar muito enganado, é quase certo, mas cada vez que vejo imagens da guerra ao tráfico no Rio de Janeiro fico com a impressão de estar vendo um “remake” modernizado da Guerra de Canudos.
Com que então os nossos poderosos inimigos são esses esfarrapados com cara de esfomeados, bermuda e havaianas, que aparecem ora se entregando ora fugindo?
Não faz sentido.
Eu queria escutar essas pessoas. Não por julgá-las simples vítimas, não é isso. Traficantes têm que ser presos. Quadrilhas têm que ser desmontadas. Não pode haver dúvida quanto a isso.
Mas essas imagens, recorrentes, me intrigam. Que inimigo é esse?
Será que a mídia o torna maior do que é? Ou será que faltam mesmo alternativas aos pobres e que ser esmagado no cerco da Rocinha ou cotidianamente talvez não faça diferença.
Desta vez, na Rocinha, uma coisa chamou a atenção: a população demonstra que tem medo.
Tem medo da polícia e tem medo dos bandidos.
Ou seja: se é Canudos, está por toda parte. Do lado que está lá, no comando. Do lado que está cá, dos PMs. Já que são esses, a pretexto de diligências, que invadem e roubam as casas dos moradores.
Mas, tudo bem, o importante nisso tudo é manter a ilusão de que existe Brasília, de que lá existe Corrupção, com C maiúsculo, e que no resto da nação tudo vai bem, todos nós somos gente boa.
A propósito:
A PM entra na USP e não sou eu que vou ser contra. Afinal, lá houve assassinatos, estupros e roubos.
Mas a PM não prendeu nenhum assassino, nenhum ladrão, nenhum estuprador. Nem traficante.
A PM prendeu 3 alunos fumando maconha. E para a classe média nacional isso virou o centro do mundo. Eis o que produz a USP (leia-se: o ensino gratuito): maconheiros.
Pronto: invasão de reitoria, expulsão pela PM e tudo mais. Bem, vamos ver o que vai acontecer.
Minha suspeita é que, dentro de pouco tempo, os maconheiros sejam substituídos por traficantes. Devidamente acobertados pela PM, naturalmente. Pela PM subornada, como no Rio, como em SP, em suma: como de costume.