O Arcebispo, o Roda Vida, a natureza
Inácio Araújo
É boa a imagem do arcebispo de São Paulo, pelos poucos minutos em que o vi no Roda Viva de segunda-feira.
Ele tem um ar direto, inflexível, mas não dogmático, seguro mas não arrogante.
Mas um momento me chamou a atenção, logo que liguei, e nem sei a pergunta que foi feita.
A resposta, no entanto, era a seguinte, mais ou menos: a natureza fez dois sexos, e estava certa ao fazê-lo. Era uma maneira, me parece, de se opor a casamento gay e similares.
O que me espanta é a catolicidade falando em nome da natureza, já que esse não é o seu forte. O que há de natural, afinal, em retirar dos sacerdotes a sexualidade?
Rigorosamente nada. A natureza não tem nadinha a ver com isso. Para ficarmos no exemplo mais evidente.
Fico nele, senão a gente não acaba nunca.
A começar da prática constante de pedofilia, que a Igreja a vida inteira ocultou (ah, disso eu sei: quando estudava num célebre colégio de padres, célebre demais para o meu gosto, havia um padre que assediava um aluno, quando o caso foi descoberto – não sei por quem talvez no interior da ordem). Ele foi tirado do colégio e transferido para uma região mais distante, o Jaguaré, onde a ordem desenvolvia trabalho social (portanto com pobres).
Como eu disse: fiquemos por aqui. A Igreja pode invocar a Deus. À natureza, nem tanto.