De carona com “Drive”
Inácio Araújo
Vi “Drive” com algum atraso, não muito. Às vezes acho bom ver os filmes sem a obrigação de responder à “atualidade”.
Acho impossível não lembrar, como intriga, o “Glória” do John Cassavetes, onde Gena Rowlands busca proteger um menino contra os gângsters que mataram sua família e agora pretendem dar um fim nele também. A motivação em “Glória” me parece mais forte, mais visceral, uma coisa de instinto que de repente desperta na garota.
Em “Drive”, o cara também busca algo parecido, um vínculo, uma família, um amor, algo que o retire do nada em que vive. É uma motivação menos forte, mas existe e não deixa de fazer sentido.
A cena de abertura do filme é muito boa, muito forte como cena de perseguição.
Todo o restante me parece cheio de altos e baixos. Em certos momentos eu me sentia muito interessado pelo que via. Em outros, tudo ficava enfadonho, meio carta marcada, com aquele personagem do Ryan Gosling transitando meio que do nada a parte alguma (o que é legal), sem eira nem beira, se fazendo de enigmático no meio daquela bandidagem toda. Quer dizer, meio indefinido, me pareceu, entre achar uma missão na Terra, tipo “Taxi Driver”, e sobreviver como o motorista do “Colateral”.
Essas proximidades não diminuem o valor do filme, nada disso. Talvez seja essa oscilação entre uma aspiração moral (ou psicológica, não importa) e outra de ordem plenamente instintiva (instinto de vida, no caso) que por vezes cole meio mal, mas não impedem “Drive” de ser um filme no todo bem interessante.