Supremo na TV
Inácio Araújo
O poder da TV, que apesar de todas as revoluções tecnológicas é assustador, hoje se manifesta de maneira mais que clara no Supremo Tribunal Federal, dito STF.
Até alguns anos não conhecíamos sequer o rosto dos ministros. Desde que abriu a TV Justiça, que não é nenhuma campeã de audiência, isso mudou de maneira radical.
No bar da esquina ou no barbeiro, discutem-se as decisões como se cada um de nós fosse um jurista consumado. O futebol, desde sempre terreno preferencial dessas conversas fiadas, cedeu lugar à discussão sobre o posicionamento de cada juiz, etc.
Talvez sejamos um pouco juristas consumados mesmo. Tirando o vasto blablablá do jargão jurídico, com o costume de ver as caras dos juízes, todo mundo percebe que, atrás do palavrório (e, cá pra nós, do narcisismo reinante) existem posições muito claras, maneiras de ver o mundo que se abrem ao público. Isso é bom.
A Justiça deixou de ser, penso que graças à TV em boa parte, um território secreto, insondável e, sobretudo, impenetrável..
Vejo na internet que não faltam esses caras que lamentam o surgimento da corrupção até na Justiça, essas besteiras.
Não é isso. É o contrário: agora sabemos melhor que existe corrupção. Começam a existir meios de combatê-la. Tudo isso vem envolto em muitas nuvens, que surgem de todas as partes. Mas hoje, quando um político ou um juiz nomeia um amigo todo mundo fica sabendo. Conforme o caso se faz vista grossa.
Mas, no geral, quando se pensa em tempos passados, a coisa era assim: não havia poderoso que não nomeasse parentes (ou mesmo os fizesse passar em concursos, como uma amiga que entregou a prova em branco e foi aprovada – depois renunciou ao cargo e mandou a família plantar batatas, assinale-se).
(Li até um dizendo que precisavam voltar os militares para dar o poder às pessoas honestas… Ah, nada como uma boa censura para dar a impressão de que o mundo é perfeito… Especialmente para nostálgicos da ditadura.)
Acho bem bacana os juízes se mostrarem humanos, quebrarem o pau. Isso os retira desse pedestal togado e um tanto ridículo, que aliás não orna mesmo com o mobiliário do Supremo.