Humor periclitante
Inácio Araújo
Um humorista de TV, eu li, parece que levou um soco ou empurrão de um deputado.
Faz o barulho habitual.
Sem saber quem é o deputado (nem o humorista), tenho todo respeito seja qual for o partido do tal parlamentar.
Nem que seja o Demóstenes, o nosso Tartufo.
Não sei em que momento o humor de TV tomou esse desvio, de abandonar toda imaginação, todo o circunlóquio das gags, essa tradição de Grande Otelo, Chico Anysio, Jô Soares, Golias e tantos mais.
Ou do Casseta e Planeta do tempo do Bussunda. Ou dos Trapalhões…
Ou, em termos de jornal, aquilo que faz o Simão…
O humor é uma mediação importante do mundo: ele nos introduz à felicidade da surpresa, do inesperado, do censurado (pelo inconsciente, não pela censura…).
Mas essa coisa ruidosa, que vive de uma fantasia de jornalista e, a partir dela, da suposição de que pode tudo… Francamente.
Eu posso imaginar até que “o público quer isso”. Mas o artista precisa conduzir o público, e não o inverso.
Marcelo Tas era uma presença crítica e feliz, quando era o Repórter Varela. Agora, parece um ambulante maluco gritando a plenos pulmões no “CQC”.
Um outro cara do “CQC” fez um programa admirável sobre crack. O que prova que pode fazer outra coisa que não humor sem graça.
Talvez não sejam as pessoas. Talvez seja a TV. A disputa insana por audiência.
Essa busca do quanto mais fácil melhor parece um pouco com esses prédios neocoloniais ou neomediterrâneos que infestam a cidade: não precisam nem de arquiteto, mas pela sua simples presença, pelo mau gosto que ostentam orgulhosamente aborrecem, entristecem, sujam a paisagem.