Educação pelo ralo
Inácio Araújo
Ou o Congresso batalha…
para enterrar a educação
Não vi até agora nenhuma intervenção a respeito do projeto de lei aprovado pelo Congresso que institui cota de 50% de alunos das escolas públicas com direito a ingresso direto nas universidades federais.
Trata-se, até onde dá para entender, de um descalabro desses que o Congresso adora inventar, uma coisa absurdamente demagógica e que arrisca a enterrar não o ensino no Brasil, mas qualquer esperança de ressurreição.
Vejamos o quadro. Universidades de ponta, tipo UFRJ ou UFMG passam a receber 50% de alunos das escolas públicas.
Como se sabe, as escolas públicas não ensinam, como norma, nada.
O que significa, de imediato, que uma quantidade enorme de alunos pouco mais que alfabetizados ingressará nessas Universidades.
Bem, o que fazer então? Ou se mantém o nível de ensino inalterado (o que implicará em perder a quase totalidade desses alunos em no máximo dois anos) ou transforma-se a Universidade em escolões, que ensinarão o básico que esses alunos não puderam aprender em suas escolas públicas.
Se se optar pela primeira hipótese, será uma crueldade inútil.
Se se optar pela segunda, joga-se a Universidade, seu trabalho de formação e pesquisa, no ralo.
Uma coisa é instituir uma cota de 10% para negros, como aconteceu há pouco. Outra é essa extravagante cota de 50% (que, inclusive, inutiliza a primeira, a reservada aos alunos negros).
Mais lamentável: isso foi aceito por todos os partidos, o que significa: na hora da demagogia barata ninguém dá pra trás. Todo mundo concorda, porque não há interesse em jogo: na aparência, todos ganham.
Em adendo, é preciso lembrar que a Unicamp tem um programa precioso, responsabilíssimo, de integração da escola pública das cidades da região.
Funciona mais ou menos assim: os melhores alunos de cada escola (via Enem), mais os melhores entre os que ficaram em segundo lugar.
Depois que entram, esses alunos passam por dois anos de ciclo básico, a fim de se igualar aos demais alunos, os que entram pelo processo seletivo clássico. Dois anos. Com ótimos professores, em todos os campos.
De maneira que após esse período eles podem escolher (e sabem escolher, o que é mais importante) o que desejam seguir.
Não sei se é um programa perfeito, mas diria que é consequente.
É incrível como não vejo nenhum movimento “Veta Dilma” para fazer frente a essa atrocidade que vai, tenho a impressão, afetar a população pobre.
Sim, porque os ricos vão estudar nas estaduais ou, então, nas particulares mais aceitáveis.