Hebe Camargo, a sobrevivente
Inácio Araújo
O cinema não foi a praia de Hebe Camargo. Algumas participações em filmes, que não me lembro de ter visto, e foi tudo.
No entanto, sua vida foi marcada profundamente pelo cinema. Nasceu em 1929, no momento em que o cinema sonoro chegava ao Brasil. Pouco depois, o pai, músico de cinema em Taubaté, ficaria sem o emprego. E a crise de 1929 não ajudou sua infância.
Ela se fixou primeiro como cantora, começando já no final dos anos 1940. Mas ela deixaria essa carreira de lado para afirmar uma personalidade como apresentadora de TV desde os anos 50, quando comandou “O Mundo É das Mulheres”, na TV Paulista.
Já era desde então uma entrevistadora, o que confirmaria na década seguinte, na grande época da TV Record. Aí o programa já era só seu e Hebe celebrizou o seu sofá, onde recebia como se em sua sala de visitas.
É claro que, propondo uma fórmula essencialmente conformista, sofresse um bocado nos festivais da canção da mesma emissora, onde a rapaziada se juntava, essencialmente, para protestar contra o governo militar.
Mas, verdade seja dita, ela aí segurou a peteca com classe.
O que veio depois não foi senão a repetição disso. No SBT, depois na Rede TV, agora a pouco, era sempre o sofá com os convidados.
Se a longevidade prova alguma coisa, e prova, Hebe tornou-se uma segunda identidade da TV brasileira.
Nessa figura simpática, que nos últimos anos tomou o papel de representar a cafonice da classe rica emergente, só não me passa pela goela a defesa feroz que, fez, durante anos, da instauração da jogatina no Brasil.
Quem começa na adolescência e chega aos 83 assinando um contrato novo na TV é uma sobrevivente. Descanse em paz.