Paul Schrader no Brasil
Inácio Araújo
Uma visita de Paul Schrader era coisa que Carlão Reichenbach queria muito, falou disso muitas vezes. Detestava os manuais de roteiro e, sobretudo, essa mania de ficar trazendo para cá e incensando esses caras que nem roteiristas são e ficam dizendo como se deve escrever um roteiro.
O Carlão também admirava muito o Schrader diretor. Foi quem me chamou a atenção para “Adam Ressurected”, certamente um dos grandes filmes da década passada e, ao lado de “Shoah”, mas de modo bem diferente, a melhor coisa já feita sobre o sofrimento nos campos de concentração nazistas, o Holocausto. Ele se fixa em Adam, um sobrevivente.
Mas ao final é a interrogação que fica sobre se são sobreviventes mesmo os que ficam naquela casa no deserto, em Israel, ou se aquilo é uma casa de mortos.
Um filme soberbo, enfim.
Na palestra inaugural, Schrader demonstrou uma paciência enorme: foram duas horas de perguntas, que giraram sobretudo em torno de roteiro e das suas relações com a Geração das Escolas, com o Scorsese sobretudo.
Ele respondeu a tudo, de gravata, no calor infernal que faz no momento aqui em SP (o MIS, depois de mil reformas, ou não tem ar condicionado ou ele é bem fraquinho).
Não vou fazer resumo, mas me parece que a parte a respeito de roteiro foi bem importante, na medida em que ele se recusou a fornecer qualquer tipo de fórmula para chegar a um texto cinematográfico.
Deu dicas, no entanto. E lembrar que o cinema é imagem não foi a menos importante delas.
Uma noite fantástica.