Blog do Inácio Araújo

Indústria da Multa e outras indústrias

Inácio Araújo

Eu chego nela. Antes existe a garota da bicicleta. Na foto do jornal ela aparece sorridente com uma câmera fotográfica no peito, pronta para fotografar os deslizes dos motoristas de carro.

Os atentados praticados contra ciclistas.

Ok. Eles devem existir.

Mas a vida já não está bastante vigiada? Não existem câmeras nos bancos, nos prédios, nos faróis de trânsito?

Ainda é preciso que a delação se torne amadora e, pior, orgulhosa?

Digamos logo: o motorista que ataca um ciclista é um delinquente, não há dúvida.

Mas tenho visto pilhas de ciclistas ocupando calçadas como se fosse esse seu direito.

Não sei. É?

Que alguém qualificado me diga.

Tenho visto pilhas de ciclistas avançarem pela faixa de pedestres como se fossem pedestres.

Eu sei que pedalar agora não é mais um recurso de pobres. É uma questão de a longo prazo salvar o planeta e tal e coisa. Muito bem: será bom organizar logo essa salvação senão a bicicleta vai se institucionalizar como uma forma a mais de opressão contra os indefesos (pedestres, no caso).

Sem contar essa nova modalidade de delação.

E as multas

Bem, aqui no reino dos automóveis, os motoristas continuam se queixando da indústria das multas.

É uma indústria, com efeito, competitiva. Não sofre com o dólar desvalorizado, nada.

Depende apenas da vontade dos prefeitos de, a horas tantas, soltar seus agentes catando irregularidades dos motoristas.

Estes, por sua vez, acham que os guardas deviam ter função “educativa”.

Mas pergunte a um deles o que seria educativo…

Seria, apenas, não multar, “ensinar”…

Mas como ensinar um cara que se supõe habilitado a guiar carros? Dando-lhe um tapinha nas costas? Claro que tem de ser multando.

Se os guardas pegassem 5% das infrações que fazemos a indústria da multa seria mais próspera que a Petrobrás.

Incluo nisso esses caras que saem sem dar a mínima para saber se alguém está passando ou não.

Ou esses que não param simplesmente na fila dupla. Param na fila dupla do lado que mais lhes convém, mesmo que haja um carro parado em fila dupla do lado contrário. Ou seja, ele interrompe o trânsito na boa.

Etc…

E a indústria do cinema

Ok, inventei tudo isso aí em cima porque que não consegui ver “Tropicália”, ainda. Quero ver pelo tema, porque temos feito bons documentários, porque eu tenho a intuição de que Marcelo Machado fará o melhor possível, quer dizer, há de se ter preparado para fazer o melhor possível.

E não há muito mais que eu tenha coragem de ver.

A não ser em DVD, claro. “A Era dos Medici”, de Rossellini, é uma caixa preciosa, com três episódios e vários extras.

“Amarga Esperança”, o They Live by Night, o primeiro Nicholas Ray, ou a primeira obra-prima de Nicholas Ray. Ambos da Versátil.

Já a Lume entra com “Lola”, de Brillante Mendoza, cineasta da moda. Ainda não vi, mas é oportuno de todo modo.

A decepção dos últimos tempos: “Quando o Amor É Cruel”, vulgo Incompresso, do Luigi Comencini. Obra-prima total, mas lançada numa versão que parece um vídeo antigo, sem qualidade nenhuma. Insuportável.

E, para terminar, alguém precisa se lançar com urgência sobre os Luigi Zampa recém-restaurados.

É ótimo cineasta, com filmes significativos sobre o período de guerra.