James Bond renasce aos 50
UOL Interação
Me pareceu sintomático que o novo 007, “Skyfall”, comece com uma velha luta sobre um trem, uma citação do cinema mudo de tão antigo, de tão clichê.
Segue-se um tiro de uma outra agente, que em vez de acertar o vilão pega direto no herói. Bond está morto. O velho Bond, seguramente.
É aí que começa a surpresa dos anos de James Bond. Sua segunda vida é todo um questionamento do tempo.
Começa com o jovem Q. suprimindo os gadgets que fizeram a fama da agência e do agente. Ele é um mago dos computadores. Oferece apenas um revólver especial e um transmissor de rádio. Diante de um decepcionado 007, pergunta, sarcástico:
“O que você queria? Uma caneta explosiva?”
A agência entra em uma outra era, já vemos desde aí.
E, não por acaso, a conduta de M (Judi Dench) é fartamente contestada: está velha, ultrapassada.
Como James Bond, talvez? Como os filmes de James Bond?
Bem, para resolver esse problema, a produção e os roteiristas providenciaram uma mudança de perfil do vilão. Nada de gente atrás dos restos da Guerra Fria, para efeito de dominar o mundo ou chantagear nações.
Nada disso: o vilão é um ex-agente ressentido. Isso é o que ele é. Quer se vingar de M. M de mãe, no caso.
No resolver do caso se dá o confronto/encontro entre o antigo e o moderno. Não por acaso, a sala urra de prazer quando 007 saca um velho carro, acho que dos tempos de Sean Connery.
O novo não pode anular o antigo, eis o princípio. Os rastros devem restar.
Na falta de ideias próprias, Sam Mendes empresta algumas antigas. A redoma em que o vilão é colocado quando de sua prisão, logo no início, remete aos lugares onde ficava exposto Hannibal, o canibal, em “O Silêncio dos Inocentes”.
A segunda parte vem mais do roteiro, mas segue o saudável princípio de “Rio Bravo”, quer dizer: os heróis se instalam em um lugar onde levam certa vantagem e esperam o ataque. Não é bem como “Rio Bravo”, em que o lugar não podia ser atacado, por causa do refém, mas a necessidade de estabelecer uma vantagem estratégica é o que conta.
Para resumir: fui lá sem esperar nada, mas tive uma surpresa bela. Acho que não há Bond tão bom desde os tempos do Sean Connery.
Mas é preciso dizer uma coisa: esse Daniel Craig muda inteiramente o padrão dos 007. Não toma um dry martini, não tem lá grandes charmes, mal transa com uma mulher. O filme é pudico à beça. Em compensação, o cara corre como um louco. Desde o primeiro filme dele é assim: ele corre.
É o Bond mais físico que eu já vi. Aliás, tem um plano engraçado, ele está com o torso nu e a primeira coisa que entra em cena, que se vê, são os peitos dele, e a primeira coisa que eu pensei foi: quem é essa mulher de repente entrando com os peitos de fora? Ai de mim… De tanto fazer musculação, o Daniel Craig desenvolveu um peitão que, cá pra nós, quase merecia usar um sutiã.