Argo: entre heróis e aliens
Inácio Araújo
Já Argo, tão falado, me decepcionou um pouco.
Pode ser o problema dos filmes muito falados. Mas não acho que seja.
Ele é honesto na colocação da questão Irã/EUA e ao notar a interferência da mídia (só nos EUA, na verdade) na história.
O fato é que existe uma enorme histeria de ambos os lados e idêntica falta de raciocínio.
Entre as massas, bem entendido.
Me parece que aí pode estar um embrião interessante para futuros desenvolvimentos por Ben Affleck.
No mais, o filme retoma a história de um plano genial.
A questão: como tirar do Irã seis funcionários da embaixada americana que haviam se refugiado na casa do embaixador canadense?
A resposta estapafúrdia do agente, especialista em tirar gente de situações incômodas: vamos fazer um filme. Ou melhor, vamos fingir que fazemos um filme.
Os detalhes disso são a operação propriamente dita.
A melhor parte do filme se passa em Hollywood, com Alan Arkin e John Goodman ao lado de Affleck, bolando um falso filme.
Há o momento genial em que estão escolhendo um roteiro para o filme fake.
Alguém sugere um título tipo “O Cavalo de Tróia” (não é tão óbvio assim, mas envolve cavalo).
O produtor: não serve. Ninguém mais faz faroestes.
Quem sugeriu (acho que o John Goodman): não é faroeste. É uma história mitológica.
O produtor: Se tem cavalo é faroeste!
Todo o final da operação se deixa levar por um suspense de montagem paralela, tipo filme do Griffith, sem nenhum humor.
É uma pena, porque dava para introduzir um tanto disso. A figura de Affleck mesmo sugere isso. Aqueles fanáticos iranianos, idem.
Não precisava tirar o que há de tenebroso da história.
Apenas tirar mais vantagem do argumento para o filme mesmo.
É um filme de estreia, talvez Affleck tenha querido segurar o público com o suspense da montagem paralela. E consegue. O filme não é detestável, mas deixa quase todo o tempo a sensação de que podia ser muito mais. O momento hollywoodiano de descontração sugere isso.
E havia algo a explorar, a respeito do cinema, dos EUA como uma província de Hollywood, mesmo em seu serviço secreto (lembrar o 1941 de Spielberg, em que os japoneses querem atingir o arsenal simbólico dos EUA, Hollywood), que acabou sendo deixado de lado, ficando meio que na surdina.
Em troca… bem pouco: aos aliens simbólicos, o filme preferiu o herói das sombras. É uma escolha prática, talvez forçada pelos financiadores, etc. Mas o filme ficou meio empobrecido.