Em DVD: Candeias, Hawks e Bergman
Inácio Araújo
Meu Nome É…
Excelente, excelente sob todos os aspectos a edição de “Meu Nome É Tonho” pela Lume, na coleção do Cinema Marginal.
A imagem está ótima. A última vez que vi uma cópia, quase não se via nada…
Ainda há “Zezero” e mais um curta no DVD e ainda alguns extras, como um programa Revista do Cinema Brasileiro dedicado a Candeias.
“Tonho” é, penso eu, o melhor Candeias. Junto com “A Margem”.
Mas gosto ainda mais de “Tonho”, um filme caboclo, um falso faroeste à brasileira. Digo falso porque os tipos, os costumes, o fraseado, tudo remete a um interior indefinido e que o autor trata com muitas cores.
Mas é de incesto, ao mesmo tempo, que se trata.
A vantagem desse primeiro Candeias é que ainda não tinha adquirido aquela auto-suficiência que fez dele diretor, produtor, roteirista, câmera, fotógrafo, montador, cenógrafo – tudo no mesmo filme.
Aqui ele tem Peter Overback na fotografia, Luiz Elias na montagem, Paulinho Nogueira fazendo a música. O resto corre por conta de sua imaginação, de sua percepção, de sua capacidade de compor bem, de construir as coisas de maneira totalmente fora dos parâmetros, mas fazê-las convergir até onde queria.
E o final, com Bibi Vogel se debatendo enquanto “Tonho” parte é qualquer coisa: é um mundo sem remissão, o que Candeias descreve aqui.
Bem mais interessante do que sua fase explicitamente política que viria a seguir.
O mistério do mistério
“À Beira do Abismo”, o grande Hawks de 1946, também está em versão impecável. O Luiz Carlos Junior sacou a proximidade deste filme com “Twin Peaks”. Achei fantástico. Ele diz que mais um passo e estamos em “Twin Peaks”. Eu só mudaria isso: acho que um passo a menos e estamos em “Twin Peaks”.
O que “À Beira do Abismo” expõe é o mistério do mistério, disso é que trata.
E há ainda “Fanny e Alexander”, que Alcino diz estar para a velhice de Bergman como “Monika e o Desejo” para a juventude.
E eu que esnobei, quando o filme passou…
Vamos atrás.
* * *
MEU NOME É TONHO (Coleção Cinema Marginal Brasileiro – volume 8). Brasil/1969. P&b, 91 min. Direção: Ozualdo Candeias. Com Jorge Karam, Bibi Voguel e Nivaldo Lima. Distribuição: Lume/Heco Produções.
À BEIRA DO ABISMO (The Big Sleep). EUA/1946. P&b, 114 min. Direção: Howard Hawks. Com Humphrey Bogart e Lauren Bacall. Distribuição: Versátil.
FANNY E ALEXANDER. Suécia/1982. Cor, 188 min (versão de cinema) e 320 min. (versão para televisão). Direção: Ingmar Bergman. Com Pernilla Alwin, Erland Josephson e Gunnar Björnstrand. Distribuição: Versátil.