Independência e morte dos independentes
Inácio Araújo
Muito interessante o artigo que André Sturm publicou na Folha de hoje (sexta, pág. 3. disponível aqui) sobre o esmagamento dos filmes pequenos ou mesmo médios sob os grandes lançamentos.
Não dá, efetivamente, para supor que a demanda por “Hobbit” ou algum assemelhado justifique tantas salas, uma ocupação territorial inadmissível do terreno simbólico.
Discordo, no entanto, que isso seja um privilégio das companhias americanas. A política brasileira vai no mesmo e insustentável sentido.
Pode-se recorrer ao fatalismo e sustentar que esse é o modo de distribuição que vigora hoje em dia, que são as condições de concorrência etc. e tal.
Pois os filmes brasileiros, tipo Globofilmes, espírita, o que for, quando podem usam o mesmíssimo tipo de distribuição.
Mas isso é controlável. A legislação argentina que taxa as cópias a partir de um certo número, e progressivamente, existe. E o que eu gosto mais é da justificativa: para que não se pense que só se faz um tipo de filmes…
Insisto: as grandes companhias, que hoje produzem aos montes no Brasil, hoje estão pouco se lixando se o filme é americano, africano ou javanês. Se cumprir aquelas condições de “universalidade” está muito bem. O cinema hoje busca criar unanimidade.
A Semana dos Realizadores
Já a Semana dos Realizadores, que acontece no Rio há alguns anos, teve este ano uma versão paulistana, no CCBB.
Segundo ouvi dizer, a Riofilme cortou a verba, não sei se toda ou apenas o máximo possível. Se foi isso é o fim da picada.
E se o ministério, o MinC, não serve para estimular esse tipo de coisa me pergunto para que serve: para a Ana de Hollanda ficar chorando as mágoas depois de sair de lá?
Pois bem: lá estão muitos filmes. Bons, maus, não importa.
Filmes que não veremos em cinema nenhum do planeta enquanto as coisas continuarem assim (exceto, claro, na Semana ou em Tiradentes).
Não é que o cinema, como indústria, não possa se sustentar desse jeito. É o cinema enquanto gosto, prazer estético, diversidade.
Se a gente for ao museu e encontrar só um tipo de quadros, se for à livraria e achar só um tipo de livros, a pintura e a literatura estarão mal.
Por que não notar que com o cinema se passa a mesma coisa?
E, por fim, porque a pergunta não pode deixar de ser feita: para que serve a Secretaria do Audiovisual se não é para regrar esse tipo de coisas?
P.S. – Cine Olido, CCBB e mesmo agora o MIS realizam sessões de filmes difíceis. Estão todos os lugares de acesso meio complicado (ou são pequenos e tal), mas vivem cheios.
Quer dizer que essa conversa mole de ir atrás “do mercado” é pra boi dormir.