História de fim de ano
Inácio Araújo
Um leitor simpático do Guia da Folha e do blog no Uol estranhou que eu tivesse dado cotação mínima, uma estrelinha, para “Holy Motors”, no Guia, e aqui no blog tivesse dito que saí no meio da sessão. Queria entender isso. Sobretudo porque, dizia, eu estava em contradição com os colegas do Guia.
Posso acrescentar: com colegas do Guia, de fora do Guia e mesmo de fora do país, da França mais ainda e dos Cahiers Du Cinéma em particular.
Bem, assim é a vida: crítica não é uma ciência exata.
Nunca gostei do autor desse filme, que acho de um esteticismo intransponível.
Quando vi que “Holy Motors” era um filme sobre cinema e representação, dei o fora, sim.
Um ato estritamente individual, mas creio que esse diretor (desculpe, esqueci o nome) vai ser que nem aquele inglês insuportável (desculpe, também esqueci o nome) que durante alguns anos só se falava nele, se faziam teses às pilhas sobre ele e hoje, por sorte, ninguém mais sabe quem é.
Não digam nunca que o mundo está pior.
Conto de Natal
Então vou contar como aprendi isso.
Eu costumava ir ao cinema com o Jairo Ferreira, crítico, comediante e mártir.
Não me lembro qual era o filme, mas a gente tinha entrado há uns dez minutos.
Acho que era no cine Paissandu.
E o Jairo começou a ficar inquieto, até que não se aguentou e virou pra mim:
– Vamos embora, Inácio.
– Pô, Jairo, já? A gente acabou de comprar a entrada.
– Então: já perdi meu dinheiro, não vou perder meu tempo.
Foi uma lição de crítica.
(Dito isso: se eu vou ver um filme para escrever a respeito fico até o último fotograma. Fora isso, não me sinto obrigado a perder meu tempo).
* * *
Vejo na TV uma matéria entusiasta sobre a educação corporativa: aquela que se dá aos funcionários para que rendam mais para o patrão.
Na matéria, aparecem funcionários entusiasmados… Ah, o que acontecerá caso não demonstrem o devido entusiasmo?
Acho que na saída há um curso sobre demissão rápida.
Ou, voltando lá para o começo: sim, com Holy Motors estou fora da norma. Completamente. Absolutamente. É preciso estar. O cinema existe para isso. E não só ele: para dar olhos próprios para ver.
Saio de férias por uns dias.
Manoel de Oliveira está internado. Ele que tem os melhores olhos do mundo. Vou torcendo por ele.
E, como o mundo não acabou, só esquentou: um belo 2013 aos amigos.