Mãe Dinah vai ao Oscar
Inácio Araújo
Que tipo de ansiedade especial desperta o Oscar nos programas de rádio e TV que fica todo mundo tentando prever, meses antes, o que poderá rolar na premiação?
Será que vence “Argo” ou “Os Miseráveis”? Spielberg ou Tarantino?
Já caí nesse conto. Não contem mais comigo para isso.
Não sei quem vai ganhar. Não sou vidente, melhor que chamem a Mãe Dinah.
O Oscar é isso mesmo: uma mistura de previsibilidade e seu inverso.
Claro que a função da imprensa é dar uma esquentada na coisa, tudo bem.
Mas há modos e modos de fazer isso.
Esses programas poderiam, ao menos em certos anos, ser pretexto para discutir o cinema, seus rumos, suas tendências.
Mas quando é para ficar na lenga-lenga de quem ganha quem perde, quem é injustiçado e quem não é, é deprimente.
Tudo aberto, tudo secreto
Há muito tempo há tentativas no sentido de bloquear os celulares nos presídios.
Agora, parece, certos testes funcionaram.
Noticiou-se que os presos reclamaram às operadoras, ou tentaram reclamar, que não conseguiam mais fazer as ligações…
Há um lado cômico nisso tudo, é claro: além de estar preso, com celular roubado, o cara vai reclamar da Vivo ou da Claro ou de seu lá quem.
Me parece, porém, que existe um outro lado.
O mundo hoje, ao menos o mundo brasileiro, tende à transparência.
Transparência que equivale a vigilância, por supuesto.
Existe um contrapeso aí que mais cedo ou mais tarde vai se manifestar.
Passemos.
A questão é que tudo que se faz tem de ser avisado previamente neste mundo.
Se você vai por um radar de trânsito na estrada é preciso que o motorista seja avisado.
O que me parece meio ridículo, já que a velocidade máxima, se for 90km/h por exemplo, é 90km/h em toda a extensão da estrada, e não apenas onde estão o radar e seu aviso.
Já aos presos ninguém precisa avisar nada.
Pode-se privá-los do sinal de celular e expô-los ao ridículo (foi esse o tom da cobertura jornalística) sem mais.
O exemplo é quase de comédia, mas a questão é outra: o universo prisional continua a não ter transparência alguma. É um mundo fechado, secreto, onde todos os direitos da pessoa são suprimidos e todos os direitos policiais são levados a extremo.
Isso começa nas delegacias, nos “interrogatórios” (vulgo torturas) e tudo mais.
O desarranjo profundo em que vive o Brasil (São Paulo, pelo menos, e creio que o Rio também) em termos de Segurança Pública passa, me parece, por aí.
Se há câmeras de vigilância em toda parte, devia haver também nas delegacias e presídios. Menos para os presos do que para investigadores, delegados, PMs, guardas penitenciários e tal.
(Não sou contra cortar os celulares nos presídios, não é isso. Sou contra fazer o teste a esse respeito sem nenhum tipo de aviso aos presidiários).