Marginais da história
Inácio Araújo
De repente, sem mais nem aquela, me pus a pensar no Júlio Bressane. Não tanto na pessoa física, mas no autor que se reivindica “experimental” e jamais “marginal”.
Sim, admitamos: nem todo marginal é experimental, mas o experimental é um marginal, sim, porque a começar por Bressane não têm lugar na história do cinema brasileiro, tal como foi escrita, tendo por princípio o Cinema Novo.
Não foi por nada a celeuma que se abriu em dado momento, quando Nelson Pereira dos Santos disse que não era um cineasta do CN, que sua geração, com a qual se identificava, era a dos anos 50 (do século 20, entenda-se).
Todo o entendimento que tínhamos formado, a linha reta que ia de Mauro a Glauber, passando por Nelson (ah, a câmera emprestada pelo INCE para “Rio 40º.” e tal) de repente ficou em suspenso.
Nosso entendimento se embaralhou. A intervenção de Nelson claramente mostra que a história do cinema brasileiro como a concebemos não dá mais conta do que é esse cinema.
Há, digamos assim, um excesso de marginais. Eles transbordam. Estão na Vera Cruz e na Atlântida, nos anos 50 e nos 20, mas também nos 70 e 80.
A escrita dessa história se deu a partir da rejeição, da exclusão de partes. Isso se deu por motivos ideológicos (o surgimento do CN), mas também econômicos (Embrafilme). Se deu, finalmente, porque a ausência de tradição até ali, o começo dos anos 1960, tinha muito a ver com a impossibilidade de ver (ou rever) os filmes.
Desde que hoje temos condições de preservação e restauro mais propícias, tende a se tornar cada vez mais vital uma revisão geral da história.
Recebo emails de Denise Saraceni dizendo “Queremos ver os filmes de Paulo Cezar Saraceni”. Mas não só. Há pouco, na Mostra de Cinema SP, revi apenas o final de “Os Deuses e os Mortos” do Ruy Guerra, e é uma beleza, mas está precisando de um restauro urgente.
Nesse setor, claro, sempre se corre contra o tempo. Mas as coisas caminharam bem nos últimos anos.
Agora, dos chanchadeiros a Khouri, de Bressane a Oswaldo de Oliveira, etc., etc. Há muito a desmarginalizar nessa história. Não é que haja má vontade com todos esses e outros mais. A questão é: encontrar seu lugar, redispor os filmes na história e a história nos filmes.
Torcidas, marketing e antimarketing
Falei outro dia da relação entre torcida e marketing. O do Corinthians me parece genial. A história do “bando de loucos”, por exemplo, é supermobilizadora, mas é preciso controlar certos efeitos, a tendência de parte dos torcedores a não abstrair, a tomar a expressão pela letra e sair fazendo maluquices.
A questão palmeirense é o perfeito oposto. Claro, existe a questão sazonal do time que há muito tempo não ganha um título de expressão maior, que foi rebaixado e tudo mais.
Mas a agressão a jogadores me parece que tem origem muito mais no marketing palestrino. O Palmeiras se nutre, e vende essa idéia (quer queira, quer não) ao mundo: é um teatro de gladiadores. Fora do campo: só há facções se pegando etc.
Até pouco tempo, o marketing do Palmeiras, pelo lado positivo, era o Felipão. Alguém que estava acima das divisões infinitas entre os conselheiros. Antes tinha sido a Parmalat: havia como que uma intervenção no clube, então as coisas iam bem.
Como no Verdão o conselheiro A prefere que o time vá ao inferno do que ver o B virar presidente, por exemplo, não é de estranhar que torcedores vivam agredindo jogadores.
E quanto mais agridem, menos jogadores querem ficar no clube, é claro, as coisas mais se complicam e os diretores mais brigam.
A questão: que idéia pretende esse clube vender de si mesmo? E que imagem?