Blog do Inácio Araújo

O braço no rio

Inácio Araújo

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Eu posso compreender um acidente em que alguém tem o braço arrancado, por brutal que seja.

Alguém faz uma besteira, dessa besteira deriva um erro, desse erro um acidente…

Tenho mais dificuldade em entender que o responsável não pare e dê auxílio à vítima. Mas o pânico pode explicar esse tipo de atitude, sim.

O que permanece incompreensível, para mim, é como alguém, tendo ficado com um braço em seu carro, se dispõe a procurar um rio para descartá-lo.

Ou: o que se passa na cabeça da pessoa?

Imagina que está se desfazendo da “cena do crime”?

Acha que braço é uma bobagem, quando se trata de outros braços que não os seus?

Não sabe que braços podem ser reimplantados? Que isso hoje é tradicional?

Trata-se de uma somatória de burrice, autossuficiência e ignorância?

De boçalidade, em suma?

Isso para mim é incompreensível.

Também é a indignação das pessoas diante da notícia (ou constatação) de que o motorista em questão não estava bêbado.

Faz alguma diferença?

Nenhuma, o braço foi arrancado por alguém num carro, sóbrio ou não.

Do ponto de vista estritamente criminal, me parece (não entendo nada de leis, é só uma impressão) que se alguém faz esse gênero de coisa em estado de sobriedade é mais grave do que em estado de embriaguez…

No entanto, parece que existe uma corrente muito forte disposta a acreditar, e difundir, que o mundo mental não existe, que não existe senão o cérebro, entidade neurológica, com seu funcionamento “normal” ou “afetado”.

As drogas são, para esses, algo indispensável para explicação de qualquer fenômeno.

Por fim, às vezes tenho a impressão de que a imprensa publica qualquer coisa. No Uol mesmo, li que o criminoso se declarou arrependido.

Ah, é? Notícia seria se ele dissesse que estava orgulhoso da pontaria.

O terror de rua

Estava saindo da Pinacoteca, quando vejo uma rádio patrulha parando e indo, revólver em punho para cima de um cara que tomava conta de uns carros estacionados.

Eles não foram violentos. Acho que a palavra “persuasivos” define melhor o caso. Tinham medo? Me parece possível (mas disfarçavam bem…)

Em todo caso, o que havia feito o fulano? Nada, exceto guardar carros e ganhar uns trocados com isso.

Não era justo o cara ter que mostrar o dinheiro, esvaziar bolsos, entregar documentos, ser examinado de alto a baixo sem que houvesse um indício sequer, exceto o fato de estar ganhando seu dinheiro honestamente, de criminalidade.

A suspeita, no caso, consistia estritamente em ser pobre.

Nós aqui da classe média deixamos de ter medo da polícia desde o fim da ditadura. Mas para o pobre as coisas são escandalosamente penosas o tempo todo. A polícia continua a ter um papel importante nisso.

Uma abordagem dessa me parece ser um convite à criminalidade. Pelo menos porque o cara raciocina que, se faz uma coisa direita ou se assalta dá mais ou menos no mesmo: no segundo caso pelo menos ele saberá porque está sendo oprimido.

E pode se armar, ir para coisas tipo PCC e de vez em quando praticar um tiro ao alvo que tem por alvo uns polícias

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