Crime e Castigo
Inácio Araújo
1.A Propósito da Verdade
Partiu de Juca Kfouri, na ESPN Brasil, emissora de esportes, a mais clara e veemente explicação do que seja Comissão da Verdade. Isso que os jornalistas de canais de notícia e mesmo de jornais de TV omitem, talvez por seguirem as normas da desinformação (também conhecida como contra informação – mais detalhes com o papa) ou, mais provavelmente, por ignorância mesmo.
A explicação de Juca (que transcrevo sem o mesmo rigor e paixão) começa por desautorizar esses que pedem a investigação “dos dois lados” na história da repressão. Como dois lados? Um dos lados foi vencido, censurado, torturado, aprisionado, exilado e, não raramente, assassinado. Que verdade se pode buscar desse “lado”? Que mataram algumas pessoas? É verdade. O cap. Lamarca mesmo atirou contra um guarda, durante um assalto, lembro bem disso, e o matou. Mas Lamarca foi caçado e morto. Que mais se pode querer fazer? Nada. Não há nada a fazer. Esse discurso não passa de cortina de fumaça destinado a encobrir torturadores e similares ainda vivos.
O segundo ponto é que esse segundo “lado”, o dos vencidos, era em número de 200 ou 300 pessoas, divididas em inúmeros grupelhos, que combateu um exército não raro apoiado por exércitos vizinhos e com assessoria especializada. Isso faz parte do jogo. Saber se eles foram heroicos ou inconscientes (ou ambos, o que me parece mais provável) é outra história. O essencial, nesse ponto, é que esses guerrilheiros combateram um governo ilegítimo, saído de um golpe militar contra instituições democráticas, contra um presidente constitucional, contra as eleições que viriam em 1965.
A esses guerrilheiros (e não terroristas: o terror foi praticado, no caso, pelo Estado), e essa parte agora é minha, por mais que se possa discordar deles, devemos o pouco de honra nacional que ainda existe por aqui. Depois vieram a igreja (d. Evaristo Arns), as reações internacionais (Direitos humanos etc.), os partidos políticos constituídos, Ulysses Guimarães e a Anistia.
Essa conversa de “dois lados” hoje é insuflada em grande medida por ex-esquerdistas de salão, que hoje consideram mais chique, ou oportuno, desenvolver um discurso de direita, em certos casos de extrema direita.
Os arquivos que estão fechados a sete chaves são os das Forças Armadas, os cadáveres que não se sabe onde estão são de guerrilheiros, o que se precisa saber sobre tortura é segredo de torturadores e não de torturados. Estamos na ordem dos fatos, não da linguagem – aqui parafraseando Vidal-Naquet. Não é questão de partido ou outro.
2. Direitos humanos
Esses desqualificados que a TV abriga em quantidades industriais costumam convencer uma parte da população, justamente uma pouco protegida, de que o mal do mundo são os direitos humanos. Que sem eles a gente podia torturar os bandidos na boa, jogá-los na masmorra e esquecer, etc.
Ora, essas pessoas não sabem ainda que são elas justamente as vítimas desse tipo de pensamento. Outro dia um chofer de taxi (eles têm solução para tudo), à parte defender a pena de morte, discorria sobre o mal dos direitos humanos. Tudo bem, chofer não tem outra coisa a fazer a não ser guiar e falar. Mas me chamou a atenção que ele era preto, retinto. Se não fosse pelos tão mal falados Direitos Humanos, pelo Iluminismo, por 1789, ainda estava no cabo da enxada e debaixo de chicote.
Essa é a questão dos Direitos Humanos: o que somos hoje, com todos os males, devemos a eles. É sobre essa famosa declaração que ainda hoje estamos sentados.
Coisa que esses desqualificados da TV jamais explicarão a seus espectadores, digo, vítimas.
Aparentemente, a CET de São Paulo entregou os pontos: não sabe mais como piorar o trânsito.
Em vista disso, decidiu dedicar-se às artes plásticas, às intervenções. Em pontos inesperados, no meio da rua, junto a esquinas, de maneira aparentemente aleatória, pinta superfícies azuis, delimitadas por uma faixa branca. Para que fique claro o caráter de intervenção, plantam pesos com faixas pretas e amarelas.
Talvez seja um novo modo de diversão: talvez esperem que os carros distraídos invadam suas obras para produzir mais eventos (ferro esmagado, talvez algum sangue,etc.).
É uma ideia. Não me parece a melhor para esta instituição tão democrática, que há décadas se esforça para piorar o tráfego onde ele ainda flui. E isso independe do partido que esteja eventualmente no poder: é uma conspiração dos engenheiros, que há alguns anos ainda não sabiam como fazer alguém entrar numa via de movimento rápido sem produzir magistrais engarrafamentos.
PS: a foto que ilustra o post é uma das caixas da Retrospectiva Sérgio Sister, na Pinacoteca. Dia 21, quinta, lá mesmo, tem o lançamento do livro dedicado ao pintor.