Na Terra dos Faraós
Inácio Araújo
Um bom DVD, no devido cinemascope, esse de “Terra dos Faraós” que a Versátil edita (sem extras, como quase sempre).
Como todo mundo sabe, não é um dos grandes Hawks. Mas, à parte a sequência final, fantástica, do fechamento da pirâmide, há pontos de interesse seguros.
O primeiro: me parece provavelmente o filme do Hawks com mais planos baixos. No alto, o faraó. E por quê? Porque é um homem acima dos homens, um deus vivo.
A mulher tratará de colocá-lo em seu devido lugar. Reduzi-lo à dimensão humana.
Mais do que isso, do ponto de vista do roteiro temos aí algo interessante para um filme feito ao mesmo tempo que “Os Dez Mandamentos”. Trata-se de uma variante laica da fuga do Egito pelos judeus. Aqui, claro, não há Moisés nem nada, aliás nem a menção aos judeus. É um povo de escravos, simplesmente, libertados uma vez concluído o trabalho de construção da pirâmide. De todo modo, uma afirmação do laico. O homem, não Deus, é que move o mundo
Como sempre em Hawks, há uma monstruosidade: a pirâmide, a construção interminável, o homem que vive para sua morte, para seu túmulo.
Pena que, entre os grandes momentos, haja coisas bem fracas.
E outro Hawks
Em Belo Horizonte, um Hawks completo. Maravilha. No ano passado foi Chaplin, com direito a Jean Douchet e tudo mais. Este ano, mais modestamente, vou eu: um curso de três dias. Não mereço estar lá, mas, enfim, estarei.
Ana Katz
Uma diretora argentina desconhecida entre nós. Com um filme, um pouco comédia, um pouco não, chamado “Los Marziano”. Três irmãos diferentes entre si , sendo que um deles, o rico, mora num lugar paradisíaco, com grandes gramados, onde de tempos em tempos, sem que nem porquê, as pessoas caem em buracos gigantescos.
Um imaginário bem estranho, bem provocante, mesmo que tenha ficado com a sensação de ter perdido algo, de não ter compreendido direito esse estranho surrealismo argentino.
Mais uma ilustração, em suma, da vitalidade do cinema de lá. Tenho mais dois filmes dela para ver, que amigas emprestaram. A ver.
Casamento Proibido
“You and Me”, no original, “Casier Judiciaire” na França, “Casamento Proibido” no Brasil. Um Fritz Lang que é dado como fraco. Do meio para o fim, talvez. Do começo até o meio, belo.
Um dono de loja de departamentos emprega ex-presidiários. Geroge Raft entre eles. Enquanto a condicional não acabar eles não podem se casar (acho que é lei, não determinação patronal).
Raft e Sylvia Sydney se apaixonam, no entanto. Problema à vista. Menor, no entanto, do que antigos colegas da gangue de Raft quererem que ele volte à ativa, justamente roubando a loja do seu benfeitor.
Há um quê de Frank Capra nisso, de partição entre um mundo entre ingênuo e bom e outro corrupto e mau. Quando isso fica desenhado, o filme de fato tropeça um pouco.
E, no entanto, a primeira parte tem aquilo muito Lang de um homem, e depois um casal, que a vida marcou a ferro. Como todo Lang, vale.