Hawks em BH
Inácio Araújo
Falei para as pessoas aquiem Belo Horizonte: vocês podem ver em um mês o que eu levei quase a vida inteira para juntar: o Hawks completo. Mais que completo, com alguns filmes não creditados que não conheço.
E há também aqueles que eu não via há muito tempo, como “Meu Fiho É Meu Rival”.
E a Sala Humberto Mauro se enche para ver os filmes: Minas tem uma tradição extraordinária de cinefilia que se transforma em crítica (exemplos aqui em SP: Alcino Leite e Cassio Starling, que eu me lembre e recentes naturalmente).
Assim como sabem organizar festivais notáveis, como Ouro Preto e Tiradentes, o pessoal daqui (no caso o Rafael Ciccarini e sua turma) recebe a gente com gentileza inacreditável, sem pompas, sem que nada falte, sem que nada sobre.
No ano passado, a Fundação Clóvis Salgado (na prática a Secretaria de Cultura de MG) trouxe Chaplin completo e Buñuel.
Este ano, Hawks. O fantástico é que, para muitos, é uma descoberta.
Para quem já conhece, como eu, uma redescoberta permanente: parece que os filmes são infinitos, que a cada nova visão reaparecem virgens.
Um dos cineastas mais extraordinários, talvez o mais, que já me lembro de ter acompanhado.
Como uma parte do Buñuel chegou em SP, quem sabe isso possa acontecer novamente, no CCBB, no CineSesc ou na Cinemateca. Lugar é que não falta.
SP Filmes
Desde que Juca Ferreira entrou na SMC paulistana tenho ouvido funcionários falarem bem de seu profissionalismo e gosto pela eficiência.
O primeiro gesto que vejo surgir, muito claro, é a ressurreição do projeto da SP Filmes.
Trata-se de uma antiga reivindicação de cineastas paulistas.
Primeiro, tenho a impressão, havia um pouco de inveja da RioFilme.
Mais tarde, a RioFilme passou por um processo pesado de fechamento caipira: encher o Woody Allen de $$$$$$ para filmar por lá (por Deus…), se preocupar em ser capital cinematográfica da América Latina e por aí vai.
Abandonou o projeto de ser uma grande distribuidora nacional. Verdadeiramente da nação.
Nesse caso, a SP Filmes, como empresa de fomento, inclusive com seu projeto de se tornar exibidora (cinemas em bairros distantes do centro), aparece como uma preciosidade: uma agência de fomento.
Os riscos são tão grandes quanto a ambição: tornar-se paulista, por exemplo (acho que por ora um secretário baiano não vai entrar nessa) e sufocar as pequenas empresas que têm segurado a onda da distribuição, não só dos paulistas como de cineastas de Pernambuco, Rio Grande do Sul etc. Ao contrário da RioFilme, me parece que é preciso uma visão sobre o país inteiro.
Aloysio
Fico sabendo consternado da morte de Aloysio Raulino, não só um importante fotógrafo como o cara capaz de topar todas as aventuras cinematográficas mais fora dos padrões, mais distante das convenções. A começar pelas ''Serras da Desordem'', que filmou com Andrea Tonacci.
Mas não havia projeto fora dos eixos em que não estivesse disposto a entrar. A generosidade talvez seja a marca maior que deixa.