Flores raras, política e paisagem
Inácio Araújo
“Flores Raras” traz dois aspectos do trabalho de Bruno Barreto de que ainda se pode falar.
O primeiro é o gosto pela natureza carioca, pela paisagem. Talvez por isso no início do filme pareça tão mais interessado em filmar do que na sua evolução, quando o filme entra num regime bravo de lenga-lenga.
O segundo é a discrição com que trata a política. O principal personagem masculino do filme é Carlos Lacerda, e o filme percorre momentos cruciais de sua carreira. Nos anos 50, comanda a campanha pela deposição de Getulio Vargas que resultaria no suicídio do presidente. Mais tarde, é um dos artífices civis do golpe de Estado de 1964, antes de ser cassado.
De todos os momentos políticos de Lacerda, o filme detém-se apenas em sua candidatura ao governo do Rio, fato incontornável, na medida em que de sua vitória resultou o parque que Lota de Macedo Soares projetou.
Talvez desviar o filme para a carreira de Lacerda, mesmo que rapidamente, pudesse ser dispersivo. Mas acho que não, primeiro porque bastariam discretas notações para situar Lacerda na história brasileira (e a história brasileira no filme). E segundo porque se há uma coisa que não falta no filme é falta de assunto.
Tenho a impressão de que BB não dá a mínima para política e evita esse tipo de assunto, que acaba sendo bem mais polêmico, no fim, do que homossexualismo, feminino ou não.
Por fim, e antes que eu me esqueça, Miranda Otto está muito bem dirigida, está muito bem no filme.