Os estranhos casos de Angélica e Marta
Inácio Araújo
Foi decepcionante o lançamento de “O Estranho Caso de Angélica”.
Entrou em um cinema, o Espaço Itaú. Na sala 3, que é mais mixuruca do cinema.
E nem ao menos está em todos os horários.
Minha dúvida é: será que o espectador de hoje, mesmo o do Espaço, do Reserva, do Cinesesc, enfim, desses cinemas ainda mais dedicados ao cinema, rejeita um filme como esses? Ou será que a distribuição é excessivamente pobre (uma cópia…), ou será que o Espaço só deu ao filme esse espaço tão restrito?
E sua compensação
Em compensação (se é que dá para pensar em compensação nesses casos), “Las Acacias”, um belo filme argentino, vai entrar.
Pensei que já tivesse circulado comercialmente, mas não. Apenas passou na Mostra e foi lá que o vi.
O encontro entre um caminhoneiro e uma passageira que entra na Argentina clandestinamente é filmado com precisão, e à medida que entramos no filme vamos, muito delicadamente, conhecendo as personagens.
O Ministério e seu mistério
É muito boa a constatação do Valdimir Safatle, segundo o qual hoje se promove (o MinC referenda, se não promove) a confusão entre cultura, mercadoria e entretenimento.
Isso não vem de agora. E, vamos admitir, nós do cinema, que essa confusão começa, em grande medida, com o cinema mesmo, que mistura essas três coisas. Mas nunca sob a forma perversa de indústria cultural.
Num filme do Antonioni, até do Antonioni, pode-se perguntar onde termina o entretenimento e começa a cultura. Mas a indústria cultural promove a mistura meio que de caso pensado.
O que nossas leis de incentivo vão atrás é dessa confusão. Se há isenção de impostos, me parece que a intenção é promover a realização de filmes, peças, livros. A difusão em áreas carentes desses divertimentos, etc. e tal.
Não é para os bancos fazerem autopromoção.
Minha pergunta é: Marta Suplicy está lá para gerenciar a liquidação final da cultura? É isso?
Não bastasse o que o MinC da Marta está aprontando na Cinemateca, que ficou ao Deus dará, agora o incentivo se estende à moda…
Muito bem: que o ministério que atende à indústria o faça. Por que a cultura?
Tragam-me a cabeça…
O que corre, espero que seja um boato, ou o sonho de alguém, é que o ministério está contratando ou contratou um head hunter para encontrar o executivo ideal para a Cinemateca.
Mas deve ser gozação, só pode ser.
Em todo caso, o escolhido poderá estrear exibindo “Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia”, de Peckinpah, o Grande.
Manifestação
Alguém da ABD vem me garantir que não morreu a idéia de uma manifestação sonora em relação à Cinemateca.
Será em setembro.
Acho que outras associações de cineastas (e não só de São Paulo) deveriam pensar no assunto.
Sem falar das escolas. Essas, pelo que ouvi, já se dispuseram a liberar os alunos para a manifestação. Talvez não todas, mas algumas. Já é alguma coisa.
Há que colocar essa situação às claras, porque até hoje tudo me parece muito nebuloso.
Há suspeita de corrupção? É preciso investigar, claro. Mas não se pode paralisar os serviços de uma instituição como essa.
Se fosse com a moda, com os cabeleireiros… Ah, seria bem outra coisa.