Blog do Inácio Araújo

No Coração das Trevas

Inácio Araújo

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A imagem do domingo vem do futebol. Ou quase isso: foram as torcidas de Vasco e Atlético Paranaense que se enfrentaram com uma selvageria que, só de olhar, metia medo.

Em dado momento, um rapaz com uma caveira gravada no calção, chutava a cabeça de outro, deitado, que tinha uma caveira tatuada nas costas.

Que absurdo triunfo de thanatos no país do Carnaval!!!

Seria preciso Zé Celso organizar a festa, talvez, como fazia ali no tenebroso final de anos 60 e começo de 70, no século passado.

O que me incomoda nesse ressurgimento da selvageria mais completa, é a quantidade de explicações. Todo mundo parece ter uma boa explicação para isso. Algum culpado e alguma solução também.

Eu, deste canto, tenho mais perguntas: quem são esses rapazes, meio fortes e meio gordos? Como e por que desenvolveram esses impulsos agressivos? Por que eles me lembram tanto aqueles confrontos sangrentos e também irracionais de “Gangues de Nova York”? Ou: qual a necessidade desse ajuntamento em gangues? Que tipo de frustração pode se esconder sob esse amor desmedido pelos seus clubes? Existe uma questão afetiva (sexual ou familiar, ou ambas) não resolvida aí?

Trata-se de uma questão de Estado, é evidente. Me parece insano o MP de Santa Catarina ver um jogo de futebol como evento privado, como se fosse um baile de formatura.

Mas não apenas no lado repressivo. Essas coisas se repetem. Aconteceram na morte de um garoto na Bolívia (estranhamente, a imprensa, sempre tão preocupada com a imagem do Brasil no exterior, ficou de bico calado quando fomos a outro país matar alguém. De bico calado, não: o que se fez de lobby pela libertação dos presos foi um foguetório).

Bem, sabe-se que esses mesmos libertados da pátria estiveram em outras sanguinolências, e os jornalistas se fizeram, em linhas gerais, de mortos.

Agora têm as respostas de hábito: precisa de polícia, precisa disso e daquilo, porque a imagem do Brasil no mundo, a Copa do mundo,o diabo a quatro.

Estou meio cheio de respostas, para falar a verdade.

Elas me inspiraram essas perguntas acima, que infelizmente não tenho capacidade de responder, mas me parece necessário, urgente, que gente com talento, olhos abertos, capacidade intelectual, volte a se preocupar com quem é o brasileiro.

Não adianta mais olhar para Sergio Buarque ou lá quem seja: as coisas são dinâmicas, esse brasileiro é outro (talvez o mesmo em vários aspectos).

Espetáculos assassinos como esse de domingo não são coisas circunstanciais, não se restringem ao esporte (ele é o lugar onde outras coisas desembocam, talvez).

A imagem do Brasil?

Me parece uma palhaçada essa história repetida dia e noite a respeito da “imagem do Brasil” com os fracassos da Copa do Mundo, brigas de torcedores e tal.

A Copa será uma enorme bagunça, como tudo aqui. Há quem gostasse se nós fôssemos a Alemanha…

Ah, Alemanha… de tão doces lembranças, não é?

O problema é o seguinte: o mundo está pouco se lixando para a imagem do Brasil.

Até parece… Quem já viajou pela Lufthansa e não teve uma mala extraviada não viajou… Quem não se perdeu no Aeroporto de Washington, quem não foi maltratado em Barajas, quem não pegou filas de imigração monstruosas em toda parte etc. etc…

Então vamos parar com essa bobagem.

Morte ao nacionalismo

Preocupante, sim, é a investigação da OMC, falando da ineficiência do SUS.

Não creio que seja apenas o SUS. Todo o serviço público é ineficiente.

A educação é ineficiente. Tudo que é reservado aos mais pobres é ineficiente.

O público, sem dúvida. O privado também, aqui entre nós.

Aliás, com todo o respeito, o serviço privado também.

Há pouco tempo, nossos médicos fizeram um vergonhoso estardalhaço contra a vinda de profissionais estrangeiros para a saúde.

Talvez tenham razão ao dizer que o governo não fez nada pela saúde, não lhes deu plano de carreira, não equipou hospitais devidamente etc. Tudo isso é relevante.

Mas deviam dar apoio aos estrangeiros, não boicotá-los.

Considerando que a Europa está numa baita crise de desemprego hoje seria o momento apropriado para o Brasil importar profissionais capazes de promover inovações, que tragam insatisfação com o status quo.

Me parece uma grande besteira do governo encher empresas brasileiras de dinheiro subsidiado para que concorram internacionalmente, quando não têm capacidade tecnológica nem administrativa de fazê-lo.

Nosso problema educacional estoura em toda parte, essa é a questão à qual o país precisa responder, em vez de ficar com essa lenga-lenga partidária insuportável.

Precisamos de estrangeiros para ensinar os brasileiros, para estimulá-los. Sempre foi benéfica a sua vinda para cá e o intercâmbio, para além de congressos.

Ainda no esporte

Acho uma besteira esses filmes que os times de futebol patrocinam para reverenciar a si próprios.

No exterior há coisas melhores. Infelizmente, o ESPN Brasil não dá muita bola aos filmes que de vez em quando eu pego pela metade.

Outro dia passaram um documentário sobre Mandela e a célebre Copa do Mundo de Rugbi espetacular.

Produzido por Morgan Freeman.