Dez anos
Inácio Araújo
“Chico Xavier”, “Nosso Lar”, “A Mulher Invisível”, “Tropa de Elite” (1 e 2), “Bruna Surfistinha”, “VIPs”…
Quem diria, há alguns, que os filmes brasileiros iriam se destacar tanto assim, na disputa insana por espaço nas telas?
Essa e outras ideias me veem à cabeça a respeito da mostra ''Cinema Brasileiro: Anos 2000, 10 Questões'', que começa amanhã no CCBB de São Paulo e depois vai ao do Rio.
Convém lembrar, porém, que isso não é inédito. Sempre que aumenta a renda, sempre que cresce a autoestima dos brasileiros, a bilheteria dos filmes brasileiros também cresce.
Isso não deve diminuir os méritos de quem acertou na mosca ao tatear o interesse do espectador, aquilo que o leva a sair de casa e procurar um cinema e comprar um ingresso.
Claro que a Globo tem uma parte enorme nisso. Mas a Globo, convém lembrar, ganha todas: nas eleições, no futebol. Por que não ganharia no cinema?
Pessoalmente, devo deixar claro que esse não é o cinema dos meus sonhos. Mas me pergunto o que, no cinema do mundo, é hoje “dos meus sonhos”.
Este ano especialmente está de doer.
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E, por uma vez, acho que pela primeira vez o público conhece a maior parte dos filmes que concorrem ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.
Se quiserem ter audiência na televisão e todo esse lero-lero convém que os filmes sejam conhecidos.
Agora, esse nome turfístico que inventaram não dá pé, por mais Tropas e Chicos que apareçam.
É preciso ir atrás de um cara de marketing que dê nome, cara, apelido a esse troféu, que o torne minimamente acessível ao público.
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Para discutir:
Esse cinema que dá público também dá dinheiro?
Ou seja, cobre seus custos?
Convém fazer o cálculo ou esquecer do assunto?
O assunto, claro, chama-se subsídios.
A presidente chamou as mulheres cineastas para um convescote, há alguns dias.
Bem, não entendo muito esse clube da Luluzinha: o que têm os homens de menos, afinal?
O que Tizuka Yamasaki faz que qualquer homem sem talento não seja capaz de fazer?
Mas Dilma Rousseff teve bom gosto: projetou ”É Proibido Fumar”.
É importante ter uma presidente que não se deixe enrolar nesses assuntos, que saiba distinguir filmes bons de filmes ruins.
E, convém não esquecer, ela prometeu encher o Brasil de cinemas.
Não é uma reivindicação que deve ser vista como algo corporativo, mas uma atenção à cultura, à necessidade integrar as artes e as letras à nossa vida normal: os governos se preocupam com o progresso material dos povos, o que é importante, mas sobretudo no Brasil parece que o progresso espiritual não tem grande importância.
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business
23/04/2011 14:26:21
De um extremo ao outro os temas se multiplicam as rela es familiares a ditadura o ex lio em Londres leituras decisivas e prefer ncias liter rias o sexo a experi ncia com as drogas Gil Beth nia e Gal Jo o Gilberto e a bossa nova rocknroll e samba Chico Buarque Glauber Cinema Novo e amor ao cinema projetos est ticos das d cadas de 60 e 70 os festivais e os programas de audit rio a velha Record o teatro de Z Celso e o de Boal o di logo com os concretistas a contracultura de Z Agrippino Beatles e Mutantes Rio S o Paulo e Salvador etc. Cantor e compositor publicou o livro Alegria alegria e dirigiu o filme O cinema falado 1986 . O nome inventado pelo artista pl stico H lio Oiticica e posto como t tulo em uma can o minha pelo homem do Cinema Novo Lu s Carlos Barreto Tropic lia de que o derivaram me soa n o apenas mais bonito ele me prefer vel por n o se confundir com o luso-tropicalismo de Gilberto Freyre algo muito mais respeit vel ou com o mero estudo das doen as tropicais al m de estar livre desse sufixo ismo o qual justamente por ser redutor facilita a divulga o com status de movimento do ide rio e do repert rio criados.
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Inácio Araujo
21/04/2011 12:57:19
Obrigado pelas palavras, Aguinaldo. Um abraço.
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Inácio Araujo
21/04/2011 12:56:20
É verdade, Guilherme. Sabe que desde a década de 1920 a gente encontra críticos reclamando que o cinema está decadente e tal. Mas 2011 até agora está muito, muito fraco. O Oscar foi um dos mais bobos que eu já vi, as coisas européias não me entusiasmam (bem, sempre há o Kiarostami) e a maior parte das brasileiras me espantam pela ausência de cinema. Mas isso não quer dizer que, daqui por diante, as coisas não venham a melhorar.
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Guilherme
14/04/2011 12:34:54
Desculpem os erros de digitação. Escrevi apressado, pois estou no trabalho. Não interferem no sentido do texto.Guilherme
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Guilherme
14/04/2011 12:30:41
Muito interessante seu post. Leio sempre o seu blog e sua coluna na Folha. Só não concordo com uma coisa: "Este ano especialmente está de doer."Todos os anos, os críticos, não só de cinema mas de diversar áreas, falam isso, pra dali a uns 2 anos ou até mesmo no próximo ano falar: "2011 teve otimos filmes", "2010 foi recheado de grandes filmes" e etc... Sendo que no decorrer daquele ano ele disse que estava péssimo. Não aguento esse discurso nostálgico de que antes tudo era melhor e a cada ano TUDO piora. Aquela velha história: "no meu tempo era muito melhor". Acho q as pessoas tem passar a valorizar mais as coisas, viver o presente e parar de ficar com esses discursos nostálgicos e melâncolicos.Desculpe o desabafo, mas vejo isso em todo canto e não achei q fosse ver por aqui. Grande abraço,Guilherme
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Aguinaldo
14/04/2011 10:06:44
Bom dia Araújo, parabens adoro seus comentarios, e voce é muito simpatico. Abração Aguinaldo
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marcos nunes
12/04/2011 16:51:21
É como foi escrito: cinema dos sonhos, século XXI, onde? Já se foram os anos 60 e 70, quando o cinema, até no País dos Idiotas, se nutria das novas tecnologias para por a câmera na mão e, através das imagens, transmitir as ideias revoluteando na cabeça.Bons/maus tempos aqueles, quando muito coisa boa/muita merda se fez.Hoje é quase só muita merda.A Globo, hoje, quer o monopólio das imagens no Brasil. O que não vai por bem, vai por mal: denúncias contra aqueles que se arvoram a transmitir imagens, sons, vozes e palavras diferentes, como Maria Bethânia. Aqui, minha meia solidariedade.Não tem jeito: indústria de imagens no Brasil, não há. O Estado arca combtudo, INCLUSIVE com as imagens da Globo, em tevê ou cinema.Carajos, mas vimos bons filmes nos últimos dez anos. E um dia venceremos os preconceitos de nossa classe-média de bosta acerca dos palavrões e sexo em nossos filme, alheios que nos filmes-padrão hollywoodianos sexos e palavrões são tempero imprescindível às imaginações puritanas deles 9e, quem sabe, do mundo inteiro).Perguntas, respostas possíveis:1) Público e dinheiro? mezzo massa mezzo mussallera. Convpem calcular: dinheiro público não é latrina pública. Porém, cinema prejú é uma coisa, cinema reconhecidamente artístico prejú é outra. Quem decidirá?3) O que os homens tem de menos? Que tal filmes horriveis a mais? Dona Tizuka, veja bem, não é exceção da classe?Isto é, mulher é homem mas, enquanto cineasta, é duas vezes mais homem para ter coragem e fazer filmes relevantes que homens não tem tido coragem de fazer?Quem prometeu encher o Brasil de cinemas, antes, foi Lula. Não o fez. Dilma tem obrigação de cumprir. E não, não é corporativismo: qualquer um que teve sua educação suplementar nas salas de cinema sabe o contributo da arte na formação de, digamos, consciências livres.Vamos tocar para frente, deixar ressentimentos e amarguras para trás. Ainda fazemos muita bosta no cinema, mas nunca fizemos, em dez anos, tal quantidade de bons filmes. É insistir, diversificar, propagar, progredir.Ou o Brasil, como diria nossa querida "ditabranda" (eca!) não é nosso?
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