Blog do Inácio Araújo

Tropa de Elite 2 papa o Grande Prêmio

Inácio Araújo

Peguei por acaso, no Canal Brasil, a cerimônia do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Décima edição.

Algumas homenagens interessantes: Norma Bengell, Remo Usai, Luis Carlos Barreto. Salvo que este quase recontou a história da humanidade. Achei boa a parte pessoal (namoro e casamento, iniciação ao cinema, etc.).

A ideologia (nacionalismo às antigas) podia ter ficado de fora. A horas tantas aquilo virou comício, praticamente.

A premiação obedeceu à ordem do dia: Tropa de Elite 2 ganhou tudo que podia ganhar. Significa que os eleitores (os membros da Academia de Cinema Brasileiro ou algo assim) estão, hoje, perfeitamente alinhados à idéia de um cinema em que o sucesso é o começo e o fim.

Entendo: um desejo louco de estar perto do público. Não é de todo injusto.

E Tropa é, digamos, um filme hoje indiscutível. Não vou nem argumentar: não se discute com 11 ou 12 milhões de bilhetes vendidos.

No entanto, a seleção geral, com exceção dos documentários, ia praticamente em linha direta nessa direção. Chico Xavier, Lula, Nosso Lar… É a idéia de “cinema indústria” que se celebrou ali.

Estamos num desses delírios triunfais a que o cinema brasileiro se entrega de tempos em tempos.

A cerimônia sub-hollywoodiana não deixa dúvidas a esse respeito.

Não sou contra certo cerimonial nas entregas de prêmio. Fazem parte do jogo.

Mas, caramba, já que é para ser assim pelo menos contrate uma pequena orquestra, ou faça uma sonoplastia honesta. Colocar um par de músicos desengonçados no palco não ajuda nada. (Melhor nem falar da apresentação musical no fim da festa).

Outra: se é para transmitir pela TV precisa fazer uma luz de TV. Dava a impressão de que as pessoas iam receber o prêmio numa boate de chanchada dos anos 50.

Se é para ser indústria, por favor, comportem-se como tal.

Em poucas palavras: está mais do que na hora de reabilitar o Prêmio Jairo Ferreira, da velha ala dos dissidentes dessa geléia industrial.

Outro espetáculo

Esperei para ver se algum especialista tocava no assunto, mas não encontrei nada.

Bem: o jogo Barcelona vs. Manchester United foi, como se sabe, um baile do time de Messi.

Nesse jogo belíssimo, o time inglês correu atrás da bola o tempo todo, mais parecia um jogo de João Bobo.

No entanto, se se for ver, o número de faltas foi mínimo. E a maior parte delas acho que foi feita por um jogador sul-americano por nome Valencia.

É muito diferente do que se passa aqui: quando se perde a bola, aqui, a primeira providência é passar a perna no adversário, dar uma canelada, coisa assim.

Não há noção de dignidade. A menor. Devia ser algo a ser pensado em algum nível (dos níveis oficiais sabe-se que não se pode esperar nada).

O Manchester perdia a bola e saía correndo atrás, sem brutalidade. O jogo não parava. O juiz não marcava falta a cada vez que um chegava perto de outro, como aqui.

Hoje em dia esse papo de país do futebol não está com nada. Nossos jogos são horríveis. Não por falta de jogadores, mas por falta de dignidade. São noções que vêm de cima.

  1. Christina Carabini

    03/07/2011 18:23:49

    Assim o retrospecto do Cinema e Argumento para a saga Harry Potter e sobre as trilhas. Sinto falta de ousadia no frances que ja fez tantos trabalhos originais e que em duas tentativas nessa serie cinematografica de grande visibilidade adotou a posicao confortavel de ser apenas correto. Agora de mal com a vida ela luta para enfrentar os fantasmas das recordacoes e para isso vai contar com o apoio do amigo Hugo Murilo Rosa um gay viuvo com quem ira dividir um novo lar e tentar aprender que a vida segue em frente e os sentimentos perduram...Nao e muito facil no cinema brasileiro encontrar filmes que conseguem construir historias introspectivas e que ao mesmo tempo possuem o dom de falar de literatura e realizar reflexoes sem transmitir uma sensacao didatica.

  2. Hugo

    03/06/2011 10:53:24

    Quais são as chances de sair o Filme A faca Sutil continuação de A bussola de Ouro ???? Obrigado. Acho muito legal a história, lamento que não obteve muita bilheteria nos EUA.

  3. Bruno Basmadji

    02/06/2011 16:38:51

    Salvo engano, o jogador Valencia é equatoriano, mas o texto está magnífico.

  4. nane

    01/06/2011 18:14:30

    Nossa Inácio, aconteceu o mesmo comigo, dando uma zapeada peguei justamente o "essa é sua vida" do diretor Barreto, não deu para aguentar....mas peguei outro pedaço com um "mico", tudo deu errado, a pessoa olhava a tela nada aparecia, derrubou as fichas, resolveu mudar a ordem dos chamados... lá atrás alguém queria entrar com troféu... constrangedor! Quanto ao futebol, não vi, mas admiro muito o Messi, venceu o melhor.

  5. Rui

    01/06/2011 17:04:13

    Concordo com o "amadorismo" na entrega de prêmios . A impressão que fica : o pessoal do cinema parece querer mostrar uma "anti-cultura" ou uma "anti-lei" nos espetáculos ou entrega de prêmios . Sim , mas não precisa ser underground . Pode ser feito um espetáulo :sério , competente , autentico e até ousado . Acho que é o medo de ficar parecido com os shows hipócritas realizados por diversos meios de comunicação ( Globo ) . A respeito do futebol : as cartas marcadas ( arbitragens que favorecem os times maiores do eixo rio-são paulo em prejuizo aos times dos outrs Estados somado a as arbitrariedades , julgamentos , incoerências etc.. da CBF ) têm afastado ou desestabilizado o futebol brasileiro. O futebol existirá sempre - porque a massa não tem outro circo .Mas será totalmente dirigido pelos cartola$$$, perdendo a graça ...

  6. marcos nunes

    01/06/2011 14:52:52

    Eu acho legal o evento da indústria ser uma bagunça; tá bom pra eles. À parte isso, cinema de qualidade continua sendo produzido no Brasil e, mesmo que passe à margem do mercado e desapareça depois da programação por uma exígua semana em sala minúscula, dá sempre pra acompanhar. O que precisamos não é de prêmio A ou B, mas uma política de ocupação de salas, e a divulgação do cinema brasileiro até romper a casca dura da platéia, ainda com a triste concepção que o cinema brasileiro é pobre, tosco, cheio de palavrões e sexo.Quanto ao jogo, não foi um jogo: foi uma licença que o Manchester deu ao Barcelona para brilhar à vontade.Existem poucos times no mundo que dão semelhante espetáculo. Fique em casa para ver Levante x La Coruña, por exemplo. Comprovará que o problema não é só aqui, mas em qualquer lugar quando os times não são aqueles que ficam nos primeiros lugares dos campeonatos.Ok, aqui aqueles que estão nas primeiras colocações também se batem. Mas tenho visto alguns bons jogos por aqui. O Vasco, por exemplo, contra o Avaí, no primeiro tempo, jogou um futebol espetacular. O Santos de vez em quando também proporciona um bom espetáculo. Já vi partidas de clubes de 2ª divisão também divertidas.Mas há, realmente, um problema cultural que chega ao futebol: o culto da solução pela violência. Isso há em qualquer lugar, mas aqui as medidas são maiores, decerto. É preciso pesquisar isso; basta uma única pergunta: "A violência é um bom recurso para resolver problemas?", e três respostas possíveis: sim, não, às vezes. No futebol, já se tornou normal até narradores e comentaristas protestarem contra as "brincadeiras" dos jogadores que "humilham" os adversários com dribles, chapéus, boala entre as pernas, embaixadinhas, etc.Ou seja, há um movimento de interdição do ludismo, pois "futebol é coisa séria", quer dizer, "futebol é dinheiro". Como "cinema é dinheiro", sua indústria não possui, também, nenhum interesse no jogo, no brinquedo, na beleza. Mas há jogo, brinquedo e beleza no cinema e no futebol. A bosta toda mesmo é o fator dinheiro...

  7. Marcos Anton Nogelli

    01/06/2011 13:47:39

    Antes de qualquer coisa este prêmio tem o troféu mais feio e esquisito que já vi em eventos similares. O nome oficial é Grande Otelo, mas o quê diabos tem a ver com ele, fora o batismo?

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