Quando começa o futuro?
Inácio Araújo
No paraíso da cinefilia – 5
Bolonha é fértil em frases. Não são apenas frases de efeito, são sobretudo sínteses de que se pode recolher ensinamentos.
Assim, Eric Rohmer mostrava seu “Victor Hugo” (da série de filmes educativos) para Diane Baratier, explicando que o havia feito sozinho: “A pressão (contrainte) é necessária”, foi o ensinamento que ela reteve.
Rui Nogueira referiu-se ao próprio Rohmer e à sua formulação: “O povo não gosta dos meus filmes. O povo gosta de Louis de Funès. E ele tem razão”.
A melhor vem do livro que Antonio Rodrigues dedica a João Bénard da Costa, o notável diretor da Cinemateca Portuguesa, que morreu em 2009.
Ele coloca em epígrafe a questão formulada por Penelope Houston a Ernst Lindgren, diretor do British Film Institute: “E quando começa a posteridade?”
Lindgren havia dito que não exibia os filmes que tinha, guardava-os para a posteridade.
Lindgren, no mais, estava às turras com Henri Langlois justamente por isso. Langlois partia do princípio de que era preciso mostrar os filmes, ainda que as cópias se desgastassem, pois não fazia sentido enfurná-los à espera de um momento ideal, “a posteridade”, que nunca chega, como o futuro (e quando chega é inútil:a cultura cinematográfica e o que a exibição dos filmes poderia gerar já desapareceu).
Inútil dizer que a nossa Cinemateca Brasileira segue mais ou menos o princípio suicida de Lindgren (mas vamos esperar que mude: agora promete-se um ciclo dedicado ao ator Sérgio Hingst, começando por “O Quarto”, de Rubem Biáfora; que não seja um desses sobressaltos que acontecem de tempos em tempos: ou cinematecas são lugar de difusão da cultura cinematográfica ou não são nada).
Por que o nazismo foi capaz de atrair tanta gente? Por que, ainda hoje, depois de exterminado devidamente, ainda consegue adeptos?
A resposta talvez venha de alguns filmes nazistas, como “O Jovem Hitlerista Quex”, de 1933. Filme de propaganda, feito antes de Hitler e sua gangue chegarem ao poder, em que um jovem, na Alemanha dilacerada do começo dos anos 30, deixa-se seduzir pelo sentido de ordem proposto pelos nazis.
Cinema de propaganda: uma coisa que encolhe o mundo. Trata-se de encolher o mundo, colocá-lo na medida da freguesia que se pretende atingir, oferecer soluções simples, ou antes, simplistas, mas eficazes.
O cinema de propaganda (e o nazista por excelência) é o inverso da arte.
G.P.U (The Red Terror ou O Terror Vermelho) é de 1939. Com os nazis no poder e a guerra ali, na porta.
No filme, os comunas conspiram loucamente. Em todo lugar. As democracias acabam colaborando. Na França, onde houvera o governo do Front Populaire, os comunas já vão dizendo que “eles fizeram boa parte do trabalho por nós”.
Mas, aleluia, ainda existe a Alemanha para nos livrar do fantasma do comunismo, com suas sabotagens, traições e safadezas mil.
E a Alemanha, ordeira, nazi, eficiente, com suas mulheres sempre alvo dos inimigos (a julgar por esses filmes de propaganda nazi parece que o objetivo central do mundo era transar com as alemãs), salvava a Europa do perigo vermelho.
Nem é tão diferente do que fariam os americanos alguns anos depois. Só é mais doentio. No caso, os americanos se preocupavam em falar a si mesmos. Os alemães queriam fazer propaganda pela Europa, para recrutar adeptos anticomunistas, que lhes seriam úteis dali a pouco.
De novo, o mundo é reduzido, amesquinhado: reduz-se a uma só coisa, a uma só formulação.
Ainda que lamentável é impecável naquilo que visa, a eficácia. Goebbels podia ser tudo, mas não era bobo.
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Luiz Messias
22/07/2011 17:01:51
Existe um filme, o qual provavelmente você conheça chamado "A Onda" o original retrata uma experiência feita por um professor em uma escola nos EUA. O professor aplica os princípios do nazismo para "converter" os alunos e professores desta escola a uma nova filosofia (ele não diz que é o nazismo) só no final do filme ele revela quem é o "chefão" da filosofia. O que pouca gente sabe é que este caso realmente aconteceu, naturalmente era um professor carismático que sabia envolver as pessoas. Infelizmente as pessoas se deixam envolver por meias verdades e por discursos envolventes sem refletir sobre o conteúdo e significado dos mesmos. Ele fez este experimento porque muitos alunos na escola diziam para ele que isto nunca aconteceria nos EUA. Nunca diga nunca.
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Maria Helena
16/07/2011 12:09:23
Nosso futuro é mesquinho, terrivel e sem volta. O mal predomina o mundo. O cinema, a tv idolatram os vilões e os jovens que são o futuro encontram em filmes e edisódios, alem das novelas, incentivos para praticarem o mal. Futuro? sera negro... INFELISMENTE....
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Neto
16/07/2011 03:23:33
O futuro está morto. Será preciso reinventar o presente.
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