A Cinemateca reage
Inácio Araújo
O que quer que esteja acontecendo na Cinemateca Brasileira parece legal.
Depois de anos de letargia aparece ali, em seguida, uma mostra Claude Chabrol, emendando com outra dedicada a Yoji Yamada (a começar, esta, no dia 25).
É claro que, hoje, o papel de difusão da Cinemateca sofrerá um pouco com a viva concorrência do CCBB, que já estabeleceu uma bela tradição na área (só recentemente trouxe retrospectivas John Ford, Minnelli, Hitchcock, e agora virá Cronenberg, para falar dos que me lembro de imediato).
E a dos filmes baixados na internet. É verdade que esses últimos existem para um prazer solitário. Ainda que sejam trocados, etc., falta esse poder único da sessão em conjunto, da conversa ou discussão que se segue.
É a esse papel de agregador que a Cinemateca renunciou há muito tempo, com vários pretextos que não vêm ao caso.
Porque à necessidade óbvia de preservar corresponde a questão imediata: preservar para quê?
O único sentido da preservação é a difusão da cultura cinematográfica. Do que vale guardar filmes “para o futuro”? E, conforme a célebre pergunta lançada a um conservador da Cinemateca britânica: “Quando começa o futuro?”.
Tenho para mim que essa coisa de ficar fechada em si mesma corresponde a um gosto meio sectário, coisa de não venha mexer comigo, não venha aqui me aborrecer. Bem, isso me parece um equívoco sem fim. Porque cinematecas não existem para dar acesso a pesquisadores universitários, mas para todo moleque fuçador que aparece por ali. Eles é que fazem a vida da coisa.
É bom ver a ficha caindo e a Cinemateca Brasileira se dando conta de que, com aquela bela sala do BNDES reservada da reuniões burocráticas do MinC, cedo ou tarde alguém ia se perguntar para o que serve essa estrutura toda.
Não menos animadora é a Sessão Cinemateca Brasileira, exibida, salvo engano, sexta e domingo na TV Justiça.
Eu encontrei por acaso, porque gosta de zapear. A divulgação é nula. Nem no site da Cinemateca se encontra nada.
Haverá alguma razão para a sessão ser clandestina?
Ali passaram recentemente preciosidades como “A Dupla do Barulho” e “Barravento”, entre outros. Coisas que não se deixam ver habitualmente.
O repertório é grande. A necessidade de remexer a história do cinema brasileiro, de encontrar coisas ignoradas, de revalorizá-las é muito grande também.
Machado, o claro
Estranho anúncio da Caixa Econômica, no qual Machado de Assis surge como correntista da instituição.
Mas o Machado da Caixa, que caminha num Rio que transpira bem-estar, é muito do branco, quase pálido. Machado não era mulato até pouco tempo atrás?