A coleção Aplauso voltará, garante a Imprensa Oficial
Inácio Araújo
Quem deu essa garantia, durante a coletiva que precede a Mostra Internacional, foi Carlos Roberto Abreu Sodré em pessoa, quer dizer, o manda-chuva da Imprensa Oficial.
Quem lançou a questão foi o Celso Sabadin: o que vai acontecer com a Aplauso? Afinal, a coleção não contratou livros este ano, limitando-se a lançar o que já estava acertado anteriormente.
Abreu Sodré deu aquelas tergiversadas características de político antes de concluir que a Aplauso voltará, sim, mas agora mais rigorosa, de maneira que os biografados vão se sentir mais bem representados do que no passado.
Pouco depois, alguém que, desculpe, não pude identificar, voltou ao assunto para lembrar que os autores eram escolhidos pelos próprios biografados, e que se sentiam muito bem representados, etc.
Para resumir: a prensa foi geral, as respostas vagas na medida do possível. Mas de tudo restou a promessa de que a Aplauso voltará.
Que ela é irregular, nenhuma dúvida. Pode-se encontrar lá os artistas mais “celebridades”, os mais importantes, mas também os esquecidos, os escanteados.
Algo me diz que o objetivo de Abreu Sodré (mas posso estar enganado) seja jogar os mais obscuros para fora e ficar só com as Fernandas e Walmores. Temo isso. Espero estar enganado, porque o melhor da coleção é, justamente, a “falta de critério”.
Uso aspas porque, de modo geral, quem chegava levava. Não havia esse tipo de hierarquia idiota. Isso é que permitiu traçar perfis muito interessantes de pessoas pouco conhecidas.
Isso, mais as coletâneas de textos críticos, mais a publicação de roteiros, formou em poucos anos um acervo precioso, embora incompleto, do funcionamento das artes que envolvam cinema, teatro e televisão, em São Paulo, sobretudo, mas não só.
O que ocorreu, na troca de governos, e embora ambos sejam do mesmo partido, foi mesmo a descontinuidade desse projeto, que tirou a Imprensa Oficial de sua histórica insignificância e instituiu um certo profissionalismo na atividade (como os livros são vendidos a preços bem baixos e uma parte vai para bibliotecas públicas, os autores recebiam um valor fixo pela elaboração do livro – isso em troca dos direitos autorais. De todo modo, e salvo exceções, acho que se recebia mais do que se recebe habitualmente como direitos autorais por publicação de livros).
Vamos esperar que o projeto recomece mesmo. Ele era bom. Tinha aspectos duvidosos. Não acredito que valha a pena entupir as bibliotecas de escolas estaduais com esse tipo de publicação, a não ser que seja para constar de estatísticas, etc. e tal. Mas coisas análogas sempre ocorrem em projetos estatais análogos. É um efeito parasitário meio inevitável. O que vale, no caso, é tocar o barco.