“Hugo Cabret”, um grande Scorsese
Inácio Araújo
Não me lembro de ter visto um filme tão apropriado ao 3D quanto “A Invenção de Hugo Cabret”.
Ok, pode-se pensar em “Avatar”, mas aqui o registro ficção científica está fora. Não há lugar para grandes voos (literalmente).
Mas tenho a impressão de que Scorsese fez um belíssimo filme. Porque a história do menino que vive numa estação de trem, ora ajustando os relógios da estação, ora roubando umas coisinhas, tem um tanto de David Copperfield, um tanto de Jean Valjean, um tanto de fantasma da Ópera.
Mas, sobretudo, um tanto de Scorsese. Ele não era órfão, como o menino. Mas era pobre, num ambiente hostil, e o cinema foi, segundo ele, sua salvação.
É um pouco essa a história que se narra. Então temos um 3D “normal”. Sem efeitos, digamos, especiais. E no entanto, o 3D está todo lá.
Inclusive nesse tom onírico que as coisas ganham no 3D e em que Scorsese parece ter investido bastante.
É um filme sonho, em que tudo se sincroniza (pois de relojoaria, de mecanismos, é que se trata): o presente do 3D e os primeiros filmes se mostram tão mágicos uns quanto outros.
Acho que isso no filme é fundamental: afirmar essa capacidade de maravilhar que o cinema tem, que precisa ter para existir. Pode maravilhar com truques ou com idéias, tanto faz (em geral o truque já é uma idéia), mas tem que maravilhar.
Vai ganhar o Oscar? Não sei: enfim, este ano, há um grupo de muito bons candidatos. Volto ao assunto loguinho.