O Oscar e o All Star
Inácio Araújo
Domingo foi dia de dois eventos-chave nos EUA : o All Star Game do basquete e o Oscar, do cinema. Na verdade, um não tem muito a ver com basquete e o outro não tem muito a ver com cinema.
O que importa, em ambos os casos, é antes de tudo a festa, a publicidade, a promoção das estrelas. Ambos são, de resto, truncados a toda hora por comerciais, o que é um pouco irritante.
O Oscar tem a vantagem de ser uma festa emocional. A paixão é o que domina, as pessoas, aquilo que elas são do ponto de vista profissional está, afinal, em jogo. Nesse sentido, é como uma final esportiva, o que o All Star Game não é: não há descontração possível no Oscar, exceto a que vem do apresentador.
Outra diferença é que o Oscar cria estrelas instantâneas. Eventualmente não duradouras, mas isso é outra história. “O Artista” premiou um diretor e um ator de que ninguém havia ouvido falar antes. Não importa, Hollywood se apaixonou por eles.
Para este ano, não há dúvida de que a polaridade, nos grandes prêmios, era entre “O Artista” e “A Invenção de Hugo Cabret”. Penso que era uma grande oportunidade de o Oscar consagrar o futuro industrial do cinema, isto é, o 3D, mas prevaleceu um gosto pelo anacronismo,por essa evocação do cinema mudo.
Não creio que o “O Artista” venha a ser um novo “Cantando na Chuva”, em todo caso. Eu, pelo menos, não tenho a menor intenção de revê-lo. “Hugo Cabret” me pareceu mais ousado, mais moderno, mais interessante também, com uma dramaturgia remetendo à primeira Revolução Industrial e sua fábula conduzindo ao primeiro cinema, a Méliès.
Achei que era a grande chance de celebrar a nova tecnologia. Mas isso importa pouco, porque o Oscar é o território da paixão. Quem escolhe o faz com o coração. E quem perde fica chorando a injustiça, etc. No ano que vem recomeça tudo.
O fato é que em 2011 tivemos um ano interessante. Os filmes eram variados. Do mais ousado (“A Árovre da Vida”), a filmes que me parecem significativos, como “Os Descendentes”, “Hugo Cabret”, “Meia-Noite em Paris”, “Cavalo de Guerra” estiveram presentes.
Havia também, é claro, esses filmes muito fracos que aparecem regularmente, como o filme das empregadas de Jackson, mas que entrava com um belo elenco. No entanto, na maior parte dos casos, filmes secundários, como “A Dama de Ferro” ou “Albert Nobbs”, ficaram limitados a seus nichos. No caso, aliás, deu Meryl Streep; eu na verdade preferi a Glenn Close. Mas isso é um detalhe.
Na categoria atores, onde não havia algo assim tão especial, dar o prêmio a esse Jean DuJardin me pareceu um equívoco. Tenho a impressão de que não leva a nada, de que as coisas ficam por aí com ele. E havia a oportunidade de consagrar o George Clooney, que é uma espécie de Cary Grant do século 21, ou mesmo Brad Pitt, que estava sensacional em “A Árvore da Vida”. Seria melhor para Hollywood. Mas quem diz que Hollywood escolhe sempre o que é melhor para ela?
Um Crédito
A respeito da idéia de que “O Artista” é um filme sobre a crise e sua superação é obrigatório dar um crédito.
É claro que muita coisa que escrevo vem de conversas, sobretudo com a Sheila Schvarzman. Mas isso que ela disse, e que me parece muito pertinente, bem, isso é 100 por cento dela e não seria direito negar.
Não usei aqui, mas no comentário que fiz para a Folha. Lá, claro, não podia dar esse crédito. Aqui, está dado.