O Mistério dos Mistérios de Lisboa
Inácio Araújo
Deve haver uma explicação, é claro, mas a primeira notícia é quase chocante.
“Mistérios de Lisboa” entra em cartaz, sim. Mas numa sessão apenas, no CineSesc.
Uma sessão, ok. Mas a sessão de duas da tarde. 14h.
Se fosse das 16 às 20h. Se fosse das 20h às 24h, fazia sentido.
Mas sessão das duas para um dos filmes mais bonitos dos últimos anos…
Eu, que não sou Raoulruizista fiquei de boca aberta, é um filme impressionante, o melhor da Mostra de 2010, junto com “Carlos” (que não entrou em cinemas até agora).
Não é que o filme merecesse sorte melhor. Nós é que merecíamos. Não somos tão ruins assim.
Um Bandido, dois Bandidos
Estréia finalmente “Luz nas Trevas”.
Não se pode esperar um filme do Rogério Sganzerla. Não é isso. Não poderia ser.
E a coisa mais certa que fez Helena Ignez foi tomar o filme a si, quase como uma obrigação, mas não tentar ser Rogério.
E o resultado é a defender.
Gosto da aproximação entre os dois bandidos, ainda que fique um tanto a meio de caminho, um tanto na psiquê do filho, o Tudo-ou-Nada.
E Tudo-ou-Nada ser nada, ser uma insignificância, uma imitação barata do pai, me pareceu um achado, porque está bem de acordo com os nossos tempos.
Nada do sensacionalismo que fazia de um pobre coitado, como o Luz, o grande inimigo público.
Hoje a enganação é mais engalanada. O buraco é mais em cima.
Os pés de chinelo morrem em silêncio. Têm o direito de berrar enquanto são torturados.
Detlef, Douglas
É quarta-feira que começa em São Paulo.
Voltarei ao caso. A retrospectiva Douglas Sirk é de uma completude esmagadora.
Tirando os filmes que fez com os alunos, depois que voltou à Alemanha, acho que tem tudo.
Há do óbvio ao raro.
Com a ressalva de que até o óbvio é raro, isto é, não se vê em cinema.
Os filmes que eu conheço feitos na Alemanha, “La Habanera” e “Recomeçar”, aqueles da Zarah Leander, são muito bons (e há um quê nazi bem sutil no roteiro, mas convém esclarecer que Douglas, então Detlef Sierck, era antinazista já então: um dia conto a história se for preciso).
A fase da Columbia, até onde conheço, é mais fraca um pouco.
Mas quase tudo é bom depois que ele vai para a Universal.
“Thunder on the Hill” é uma beleza, “Sinfonia Prateada” e “Mulher de Fogo” são comédias muito, muito interessantes.
O que me enche são uns filmes já mais para o fim, como “Sinfonia Interrompida” e “Hino de uma Consciência”.
Ainda assim, gostaria de rever, para ver se os filmes mudaram ou mudei eu.
Enfim, um ciclo a não perder.
Como disse, voltaremos.