Sirk, o essencial
Inácio Araújo
Outro dia, passando os olhos rapidamente pela programação da Retrospectiva Douglas Sirk do CCBB disse que era completa.
Meia hora depois lembrei que não havia visto ali “Hitler’s Madman”, que no Brasil tem o título horrível de “O Capanga de Hitler”, que é um filme sobre o assassinato do Heinrich, feito ao mesmo tempo que o do Fritz Lang (“Os Carrascos Também Morrem”).
São filmes interessantíssimos de comparar, porque mostram bem as diferenças estilísticas desses dois diretores alemães.
Ambos essenciais.
Mas a questão é que Sirk filmou pra burro, nos EUA: três filmes por ano. Não é mole.
Tem a fase alemã, na UFA nazista, me parece que completa. O principal é sem dúvida os dois filmes com Zarah Leander, “La Habanera” e “Zu Neun Ufern”.
É bom precisar que Sirk não era nada nazi. Ele era diretor de teatro e foi denunciado pelos próprios atores, quando os nazistas subiram ao poder. Refugiou-se então na UFA.
A questão é que a segunda mulher dele era judia. A primeira, claro, virou uma nazi ardorosa.
O que vem depois é paradoxal, porque seus filmes faziam o maior sucesso, mas ele não podia ter passaporte, o pessoal desconfiava dele, e a mulher ele já tinha conseguido que saísse do país.
Aí ele consegue escapar. Tem um filme na França que, consta, é supervisionado por ele, mas sem crédito. E na Holanda ele faz “Bofje”, que também não está na retrospectiva, eu nunca vi, parece que é bem raro.
A fase Columbia eu conheço mal. Mas “Lured” é um filme bem interessante. Vi mais uns dois outros, mas eu confundo, não vou arriscar os nomes. Acho que vi “Vidocq”, porque assim como “Lured” tem o George Sanders.
Na Universal ele filma a dar com o pau. É a história dos três por ano que o amigo contou ao Simantob, numa entrevista que eu bem gostaria de ler inteira, sem edição. Está ótima! Mas curtinha…
Então faltam alguns menos conhecidos.
Há alguns, como “Agonia de uma Vida”, de 51, acho que o primeiro filme Universal dele. Um melô ótimo sobre umas freiras que acolhem uma suposta criminosa. E chove aos montes.
Gosto muito de “Sinfonia Preateada” (ele tinha mão boa para comédia) e de “Mulher de Fogo”, mais para musical, com a Ann Sheridan arrasadora.
Há um filme muito interessante, que é “Herança Sagrada”, porque é um faroeste, o que sai bem do estilo Sirk, mas com um aspecto melodramático acentuado.
No domínio da aventura, “Sangue Rebelde” é interessante.
E os grandes filmes continuam grandes. As produções do Albert Zugsmith são o melhor, “Palavras ao Vento” e “Almas Maculadas” – esse é menos conhecido, por ser em P&B, mas é espetacular.
As produções do Ross Hunter são aquela coisa. É interessante, o Sirk fazia o pior material virar o melhor filme.
Tem dois que acho bem fracos: “Hino de uma Consciência” e “Interlúdio”.
Vale ir ver.
Cassavetes
Já o Cassavetes na Cinemateca é bem parcial, o que não significa que os filmes não sejam ótimos.
São a ver também. Mas são filmes que estão aqui, bem mais acessíveis.
As estréias
Ah, as estréias. Há o Kore-Eda. Cercado pelo nada.