Confissões de Xuxa e etc.
Inácio Araújo
Marcelo Rubens Paiva manifestou o sentimento de que Xuxa poderia ter sido menos expansiva na manifestação feita no “Fantástico” sobre abusos sexuais de que teria sido vítima na infância.
Tenho a impressão, pelo meu lado, que pessoas como Xuxa só existem no mundo do espetáculo, ou antes, na sociedade do espetáculo: sua vida parece só fazer sentido se exibida na TV, se produzir audiência.
Li que confessar ter sido abusada por um treinador foi motivo de relançar a carreira de uma nadadora famosa.
A confissão de Xuxa pode ter o mesmo efeito. Em todo caso, já há um senador disposto a faturar em cima dela e querendo sua presença no dia em que será aprovada (ou assinada, não sei) uma lei contra abusos sexuais.
Que, ao menos por enquanto, leva o nome da nadadora.
Os dois lados ou Os Assassinos da Verdade
É tão frequente ler que é preciso investigar “os dois lados” na Comissão da Verdade que começo a me inclinar para esse lado.
Como disse um agudo leitor, o direito a levantar-se contra a tirania é o fundamento de todo terrorismo. Não se pode apoiar uma coisa dessa.
Portanto, devemos investigar, sim, todos os crimes cometidos pelos terroristas brasileiros, ainda que tenham sido devidamente investigados a seu tempo por agentes torturadores.
Devemos, acredito até, ir mais longe. É preciso investigar “os dois lados” da Guerra da Argélia. Não apenas os franceses torturadores como os argelinos que se insurgiram pedindo liberdade.
Também os terroristas, como Menahem Begin, que lutavam pela fixação dos judeus na Palestina têm que ser investigados.
E, claro, é preciso uma devassa nas diversas resistências aos nazistas e fascistas, durante a Segunda Guerra: esses caras eram um perigo para a ordem instituída, sem dúvida.
Acho que em nosso afã de imparcialidade devemos ir ainda mais fundo e investigar os criminosos pelo infame levante do Gueto de Varsóvia, que tanto traumatizaram as famílias nazistas de Varsóvia.
Enfim, a verdade tem que ser contada…
(Mas a esses defensores da verdade imparcial aplica-se bem a fórmula de Pierre Vidal-Nacquet: são esses os assassinos da verdade.)