Xingu, o Brasil e seu Outro
Inácio Araújo
Não sei se estou de acordo com Fernando Meirelles, quando diz que o público brasileiro não gosta de índio, e por isso “Xingu” não foi nenhum estouro de bilheteria.
Talvez o problema maior esteja em imaginar que todo filme precisa ter 2 ou 3 milhões de espectadores para dar certo.
Estamos mais preocupados com o espetáculo do cinema do que com o cinema. Mais com os festivais do que com os filmes.
Aliás, não me parece que a questão sejam os índios.
Talvez se tenha cultivado nos últimos anos um público que aprecia “Cilada.com”. E esse público com toda certeza terá dificuldade para ver “Xingu” ou qualquer outro filme que não seja irremediavelmente cretino.
Os 400 mil de “Xingu”, ao contrário, me parecem animadores: eis aí um filme narrativo, acessível, mas com sentido de dignidade do cinema, que busca elevar o seu espectador, mostrar alguma coisa que, afinal, é uma velha questão brasileira: a Marcha para o Oeste.
Isso é: o Brasil e seu outro. Esse que os Villas-Bôas buscam compreender, mas que, sabem, permanecem um outro irredutível à nossa cultura branca.
Mas esse outro também é tudo o que nossa sociedade de castas torna invisível, inatingível: o pobre, em grande medida, mas o próprio Brasil
DVD e Tv cabo
A temporada cinematográfica não está lá muito animada, mas a de DVDs está me enlouquecendo.
Outro dia, a Versátil lançou “Os Deuses Malditos”, um Visconti belíssimo, onde a indústria de armas na Alemanha, Segunda Guerra, produz armas, claro, mas produz antes de tudo o inferno de seus deuses.
Não fica atrás, porém, o belo, delicado “O Mensageiro”, de Joseph Losey, da Lume.
Só que agora a Lume me sai com um pacote que pelo amor de Deus. Lá estão “O Último Magnata”, de Elia Kazan, “O Homem dos Olhos Frios”, Anthony Mann, “Nathalie Granger”, de Marguerite Duras. Quer dizer, um pouco mais fraco mesmo só o no entanto bem simpático “Quando É Preciso Ser Homem”, de Ralph Nelson.
Estava nisso, nessa em que a gente nem consegue falar de cada filme e entrega ao gosto de quem ler essa notícia buscar o seu preferido, quando aparece aqui um pacote do Telecine com 15 filmes de Marilyn.
Ok, acho que quase todos estão aí em circulação. Mas é de supor que esses filmes estarão agora na TV paga, e a ocasião de revê-los é tentadora. Não sei se vale a pena destacar algum, mas os de Billy Wilder com ela estão todos lá – e eles se davam bem. Há ainda os dois Hawks que ela fez, sobretudo “Os Homens Preferem as Loiras” (“O Inventor da Mocidade” é fantástico, mas ela é coadjuvante só). E o faroeste com o Robert Mitchum, “O Rio das Almas Perdidas”, do Otto Preminger.
Bem, essa é uma parte dos 15. Há umas coisas meio chatas, mas como passar ao largo delas?